O corredor do hospital cheirava a desinfetante e café requentado. Eu estava encostada na parede, observando Miguel falar com o médico quando os avós de Giulia apareceram.
Não precisei de apresentações.
A mulher – Dona Marta – tinha os mesmos olhos claros que Elena nas fotos espalhadas pela casa. O homem, alto e de postura rígida, carregava um urso de pelúcia enorme, embrulhado num laço que já começava a desfiar com a chuva.
Giulia, sentada na cama, gritou:
— Vovó! Vovô!
Miguel virou-se tão rápido que quase derrubou a cadeira.
— Marta. Roberto. — Ele engoliu em seco. — Não precisavam ter vindo. A médica já deu alta.
— Alta? — Dona Marta ignorou o comentário, passando direto por ele para abraçar Giulia. — Minha netinha, que susto você nos deu! Olha o que vovô trouxe pra você.
O urso foi depositado no colo da menina, que abraçou o bicho com um sorriso que iluminou o quarto.
— Ele fala, vovó?
— Claro que fala! — O senhor Roberto apertou uma patinha do urso.
— Só foi uma intoxicação aliment