O café na minha frente já estava frio. Não sei quando esqueci de bebê-lo. Minha atenção estava presa na janela atrás do acionista alemão, onde os reflexos do sol em Sevilha desenhavam padrões que lembravam os cabelos da Giulia correndo para a escola.
—...e com esses números do terceiro trimestre, projetamos...
A voz do homem se perdia em meio ao turbilhão na minha cabeça. Será que a Isabella lembrou da pasta de dentes com sabor de morango que Giulia gosta? Ela sempre faz birra com a de menta.
—Miguel?
Pisquei. Os quatro homens na sala estavam me encarando. O francês, Lefèvre, tinha aquela expressão de quem repetira a pergunta três vezes.
— Peço desculpas. Poderia dizer novamente?
Lefèvre suspirou, mas reiniciou a explicação sobre os mercados asiáticos. Tentei me concentrar nos gráficos, mas os números dançavam na tela, transformando-se em horários: 8h30 - aula de ballet, 12h - almoço sem glúten (Maria deixou anotado), 15h - pintura.
Um toque no meu celular me fez pular. Uma foto da Giu