Era uma manhã fria de inverno quando a carta chegou.
O carteiro, um homem simples que há anos entregava correspondências no solar Ferraz, parecia desconfortável ao estender o envelope.
— Veio da penitenciária de Solândia, senhora Ferraz.
Isabel hesitou antes de tocar o papel. O selo oficial, o carimbo úmido e a caligrafia conhecida fizeram o coração dela bater de forma irregular.
Gabriel estava na varanda, lendo o jornal. Quando viu o envelope em suas mãos, levantou-se imediatamente.
— É dele?
Ela assentiu devagar.
— É.
Por um instante, o silêncio pareceu tomar conta do mundo. Isabel girou o envelope entre os dedos, sentindo o peso do passado pulsar ali dentro.
— Ele quer me ver. — disse por fim, com um tom baixo, quase resignado.
Gabriel se aproximou.
— Você não precisa fazer isso.
— Eu sei. — ela respondeu, olhando o horizonte. — Mas talvez precise… pra mim mesma.
Dois dias depois, Isabel viajou até Solândia. O caminho era longo, e o céu permanecia encoberto, como se o tempo se recu