Dois anos haviam se passado desde o dia em que Santa Aurélia assistira à queda definitiva do nome Monteiro.
A cidade seguia com sua rotina de cafés cheios, praças floridas e jornais tranquilos. O escândalo se tornara apenas uma lembrança distante — uma história contada em sussurros ou manchetes antigas amareladas pelo tempo.
No solar Ferraz, a vida se transformara completamente. O casarão, antes sombrio e pesado de lembranças, agora pulsava com sons de riso e música. Isabel acordava todas as manhãs ao som do piano, o mesmo que um dia tocara para esquecer. Agora, tocava para viver.
Ela e Gabriel haviam feito o que poucos acreditavam possível: reconstruíram-se.
Gabriel assumira os negócios da família com serenidade; trabalhava menos e vivia mais. Isabel abrira uma pequena escola de música na cidade — “Casa Aurora” —, um lugar simples, mas cheio de crianças que aprendiam mais do que notas e acordes; aprendiam sobre recomeços.
Às vezes, Isabel ainda se pegava olhando o horizonte pela jane