O celular vibrava, insistente, nas mãos de Ashley.
Os olhos azuis, geralmente cheios de vida, agora refletiam um mar de incertezas.
"Chamada não atendida."
De novo.
De novo.
De novo.
O número que ele lhe dera — o número que ela havia decorado como quem grava um poema de amor — agora parecia um portal fechado.
Sentada na poltrona da pequena sala, ela apertava o aparelho contra o peito como se, de alguma forma, aquilo pudesse trazer respostas.
Ethel, que observava a neta com olhos atentos e coração de mãe, não demorou a se aproximar.
— Ashley, minha filha… — falou baixinho, sentando-se ao seu lado. — Você já tentou tantas vezes… O que foi que aconteceu?
Ashley respirou fundo, tentando conter as lágrimas que teimavam em surgir.
— Vovó… ele prometeu que voltaria. Disse que me ligaria assim que chegasse. Mas já fazem dias... eu ligo e ninguém atende. Será que ele… será que ele só brincou comigo? Será que foi tudo mentira?
A avó segurou suas mãos com ternura.
— Ashley, olhe para mim, meu amor. — Sua voz era suave, mas firme. — Aquele rapaz não é um homem qualquer. Ele veio aqui, sentou à nossa mesa, conversou com seu avô, comigo… Ele olhava para você como um homem que estava encantado, não como alguém que brinca com os sentimentos de uma moça.
Ashley fungou, os olhos marejados.
— Mas então… por que ele não fala comigo, vovó? Por que não responde?
Ethel alisou seus cabelos com carinho.
— Eu não sei, minha filha. Mas de uma coisa eu tenho certeza: se ele estivesse bem, já teria dado um sinal. Deve ter acontecido alguma coisa. Não se atormente achando que foi culpa sua. Você é uma moça de valor. E se ele for digno, vai esclarecer tudo. Se não for… não era para ser. Mas você jamais deve duvidar do seu valor.
Ashley assentiu, embora o peito apertado não encontrasse consolo imediato.
Os dias passaram.
Depois semanas.
A cada manhã, Ashley acordava com a esperança de ver uma mensagem, de ouvir aquele toque tão esperado.
Mas o silêncio continuava ensurdecedor.
O outono chegou, pintando as folhas de tons dourados e vermelhos.
E com ele, um vazio crescente tomou conta do coração de Ashley.
Naquela tarde de céu nublado, com as mãos trêmulas, ela encarou novamente o celular.
Seu coração gritava por um gesto, um sinal, uma resposta.
Discou.
Esperou.
Desta vez, a ligação foi atendida.
— Alô?
Uma voz feminina, fria e elegante, soou do outro lado da linha.
Ashley engoliu em seco.
— Por favor… o senhor Philipe… ele está?
Um riso forçado.
— Quem está falando?
— Sou… Ashley. Uma amiga. Ele… ele me pediu que ligasse…
— Amiga? — a mulher interrompeu. — Querida, você deve estar enganada. Eu sou a noiva dele. Talvez você devesse tomar mais cuidado com os números que disca.
Ashley sentiu o chão sumir sob os pés.
— Eu… me desculpe… acho que… liguei errado… — balbuciou, a voz embargada.
Desligou antes que as lágrimas caíssem.
Ethel a encontrou encolhida no sofá, o rosto escondido entre as mãos.
— Minha filha… o que foi?
Ashley ergueu o olhar, os olhos marejados de dor.
— Ele… ele era noivo, vovó. Ele brincou comigo…
A avó a envolveu em um abraço apertado.
— Não, meu amor. Você não sabe o que está acontecendo de verdade. Não tire conclusões no escuro. E mesmo que fosse… você não está sozinha. Assim como apoiei sua mãe, estarei ao seu lado. Sempre.
E ali, nos braços da avó, Ashley chorou.
Não apenas pelo homem que acreditava ter amado.
Mas pela inocência que, de repente, parecia ter se perdido no vento.