O quarto de hospital era silencioso, exceto pelos bips constantes dos monitores que acompanhavam o ritmo instável do coração de Philipe.
Brittany, com os olhos pintados demais para uma ocasião tão grave, mantinha-se perto da maca, como se sua presença ali fosse natural.
Mas não era.
Quando o celular de Philipe, deixado sobre a pequena mesa ao lado, começou a vibrar discretamente, ela não resistiu.
Olhou de soslaio para os médicos, que naquele momento conversavam com os pais dele sobre os próximos passos do tratamento.
A tela brilhava com uma palavra que lhe gelou o sangue: Amor.
"Amor? Quem é essa?"
Seu rosto endureceu.
Pegou o aparelho e, como uma serpente deslizando no escuro, saiu discretamente para o corredor.
Respirou fundo e atendeu, voz doce, mas carregada de veneno.
— Alô?
Do outro lado, uma voz trêmula.
— Por favor… o senhor Philipe… ele está?
Brittany forçou um sorriso gelado.
— Quem está falando?
— Sou Ashley… uma amiga. Ele me pediu que ligasse…
A oportunidade brilhou diante dela como ouro.
— Ah, querida… você deve estar enganada. Eu sou a noiva dele. Talvez devesse tomar mais cuidado com os números que disca. — Fez uma pausa teatral. — Mas... obrigada por ligar.
Sem esperar resposta, desligou, os lábios repuxados em um sorriso de pura malícia.
"Se ele a salvou como Amor, então realmente significava algo. Mas agora… ele não vai lembrar."
De volta ao quarto, Brittany guardou o celular no bolso do paletó de Philipe com um ar de falsa preocupação.
Pouco depois, os médicos retornaram.
— O quadro é estável. Ele deve acordar a qualquer momento.
Mas é importante que saibam: houve uma perda de memória recente.
É temporária, mas pode levar dias, talvez semanas, para que tudo volte.
A mãe de Philipe, sentada ao lado da cama, respirou aliviada.
— Graças a Deus…
Minutos depois, um suspiro profundo cortou o silêncio.
Os olhos verdes de Philipe se abriram devagar, confusos.
— O que… o que aconteceu?
Brittany foi rápida.
— Philipe! Graças a Deus, você está bem! — segurou sua mão com força desnecessária. — Você se lembra de mim, amor?
Ele piscou, ainda atordoado.
— Brittany…? O que… o que você está fazendo aqui?
Ela sorriu, forjando doçura.
— Não se lembra? Antes de você viajar para aquela cidadezinha… ficamos noivos. — Ergueu a mão, mostrando um anel de diamantes reluzente.
Philipe franziu a testa, olhando para os pais em busca de respostas.
Sua mãe, com um olhar sincero, explicou:
— Quando soubemos do acidente, ela nos procurou. Disse que vocês tinham acabado de ficar noivos… que você a amava… estava tão desesperada que não conseguimos negar sua presença aqui.
Philipe sentiu um nó no estômago.
Algo não fazia sentido.
Por mais que tentasse vasculhar a mente, não encontrava um fio sequer de sentimento que justificasse aquela situação.
"Eu... não amo essa mulher. Como poderia querer me casar com ela?"
O olhar que lançou para Brittany foi frio, distante.
Mas ela, ciente da brecha aberta pela perda de memória, manteve o teatro.
E em algum lugar, não muito distante dali, uma jovem mulher de olhos azuis chorava em silêncio… acreditando ter sido enganada por um amor que fora mais real do que qualquer outro.