— Vovó, estou indo para o meu quarto. — minha voz saiu baixa, embargada. — Não me sento bem, minha cabeça dói.
Ethel me olhou com ternura, sem fazer perguntas.
— Vá, minha filha descansa um pouco, levarei um chá daqui a pouco, quer que eu leve algum medicamento?
Balancei a cabeça, enxugando as lágrimas que ainda insistiam em cair.
— Não, vovó, obrigada, não quero nada, acho que essa dor é só porque chorei demais.
Ela suspirou, acariciando meu ombro.
— Tome um banho e tente dormir depois de tomar o seu chá. Já é noite e nada melhor, minha filha, do que um dia após o outro.
Assenti em silêncio e subi para meu quarto, carregando comigo um peso que chá nenhum seria capaz de aliviar.
Fechei a porta do quarto e me joguei na cama, ainda com o celular preso entre os dedos. A voz daquela mulher ecoava como veneno nos meus ouvidos: “Eu sou a noiva dele”.
Cada palavra que ela disse me atravessava como uma lâmina.
Enterrei o rosto no travesseiro, mas não adiantava. A dor não me deixava.
Abri o celular, deslizei pela tela com mãos trêmulas. As mensagens ainda estavam lá.
"Boa noite, meu amor, sonhe comigo Phil."
"Quero ver seu sorriso amanhã cedo quando descer para tomar café."
"Você é diferente de tudo que já conheci."
Engoli em seco,Fechei os olhos. E então as lembranças vieram, uma atrás da outra, como se fossem projetadas dentro da minha cabeça.
A manhã em que ele chegou.
O carro negro parando diante do Silver Springs Grand Hotel.
Ele descendo tão alto que parecia não caber no lugar, cabelos escuros, quase pretos, olhos azuis que me deixaram sem ar.
Lembro-me de como minhas mãos tremeram no teclado quando digitei os dados dele, e da colega cochichando baixinho ao meu lado: “Uau, um deus grego desses aqui na nossa cidade…”
E eu, tentando esconder meu rubor: “Shhh, você sabe que não pode comentar isso.”
Ele sorriu ao receber o cartão da suíte. Aquele sorriso.
"Obrigado, Ashley."
Meu nome na voz dele parecia um segredo sagrado.
Foi nesse instante que borboletas começaram a revoar dentro de mim.
Um soluço escapou dos meus lábios.
Passei as mãos pelo rosto, mas as lágrimas não paravam.
Na tela do celular, uma foto nossa, no jardim do hotel, meu vestido simples, era um contraste com ele em seu terno de grife , mas a mão firme dele em na minha cintura mostrava que era real.
As lembranças me machucaram.
Aquela noite, a caminhada sob os lampiões.
"Em Boston, tudo é pressa. Aqui encontrei o que não sabia que precisava."
"E o que seria isso?"— o sorriso, "Você."
Apertei os olhos com força, como se quisesse apagar a cena. Mas quanto mais eu tentava, mais nítido ficava.
O toque das mãos dele nas minhas, o beijo que roubou minha alma, a minha entrega, o amor e a promessa de que voltaria em um mês.
"Me espere, Ashley, voltarei para você."
Meu corpo inteiro se sacudiu em soluços.
— Mentiroso, — sussurrei, a voz engasgada. — Você prometeu.
Olhei de novo para o celular. Lá estava a promessa escrita em letras frias:
"Em um mês, estarei de volta."
Agora eu sabia a verdade, enquanto eu me agarrava àquelas palavras, ele estava comprometido.
Virei de lado na cama, abraçando o travesseiro como se fosse a única coisa que me restava.
Meu Deus, como fui ingênua.
Nunca me iludi com nenhum rapaz da cidade, sempre me guardei, achando que o amor seria único, especial, e quando finalmente aconteceu, foi com um homem que já tinha outra.
A vergonha queimava tanto quanto a dor.
Levei as mãos ao rosto, abafando o choro.
A porta do quarto se abriu lentamente , e ouvi os passos leves de vovó Ethel.
— Minha filha, — a voz dela era suave,— Como você está?
Sentei-me na cama, enxugando as lágrimas como pude.
Fiquei em silêncio, incapaz de formar palavras.
— Não sei vovó, estou me sentindo vazia, é como se meu coração estivesse em pedaços.
Ela me abraçou rápido e saiu, fechando a porta para me deixar com a dor que só eu podia carregar.
Deitei novamente, encarei o teto.
As mensagens continuavam me queimando nas mãos.
"Você é a pausa que eu não sabia que precisava."
"Com você eu sou apenas eu."
— Nunca mais vou te ligar Phil— murmurei para mim mesma, tentando acreditar em minhas palavras. — Nunca mais, nem para te contar que estou grávida.
O sono veio devagar, misturado às lágrimas.
E, antes de apagar completamente, só uma certeza ficou martelando:
o homem que eu amava mentiu para mim.