A estrada serpenteava por entre colinas verdes quando o carro negro de luxo parou diante do modesto, porém charmoso Silver Springs Grand Hotel.
Philipe Harrington Fitzgerald, um dos empresários mais respeitados de Boston, desceu do veículo com a postura elegante de quem estava acostumado a mover cifras que poucos sequer compreendiam.
Mas ali, entre fontes termais e o cheiro doce de pinheiros, ele buscava mais do que contratos.
Buscava uma pausa para respirar.
— Senhor Fitzgerald, seja muito bem-vindo. — A voz suave veio da recepção.
Ele se virou e, por um instante que lhe pareceu suspenso no tempo, encontrou dois olhos azuis tão profundos quanto o céu daquela manhã.
Ashley Ellsworth.
Ela sorriu, com aquele misto de profissionalismo e ternura que poucos conseguiam dominar.
— Espero que sua viagem tenha sido agradável. Preparamos a suíte presidencial para o senhor.
Ele tentou responder, mas, por um breve momento, palavras lhe faltaram.
Nunca antes um simples olhar o havia desarmado daquela forma.
— Foi... uma boa viagem, obrigado. — A voz saiu rouca, quase contida. — E, por favor, pode me chamar apenas de Philipe.
Ashley assentiu, um leve rubor colorindo suas faces.
Acostumada a hóspedes de todos os tipos, não se lembrava da última vez que alguém lhe despertara tamanha inquietação.
Os dias que seguiram foram uma dança silenciosa entre olhares trocados e conversas que se estendiam além do balcão.
Philipe, sempre discreto, passou a frequentar o saguão em horários que sabia que ela estaria ali.
Ashley, mesmo tentando manter o profissionalismo, sentia o coração acelerar sempre que ele surgia.
No quarto dia, tudo mudou.
Ele a convidou para caminhar pelos jardins do hotel.
Ela hesitou — por instinto, por receio — mas algo naqueles olhos verdes a convenceu.
A noite caiu sobre Silver Springs com um brilho de estrelas que parecia abençoar aquele encontro.
— Você é diferente, Ashley. — Philipe disse, enquanto caminhavam sob a luz tênue dos lampiões. — Em Boston, tudo é pressa, tudo é fachada. Aqui... encontrei algo que não sabia que precisava.
Ashley parou, olhando para ele.
— E o que seria isso?
Ele sorriu, genuinamente.
— Você.
Naquela noite, não houve pressa.
Não houve máscaras.
A entrega foi mútua, nascida de um laço invisível que nem a razão poderia explicar.
E quando o sol nasceu, Ashley soube que o mundo jamais seria o mesmo.
Durante aquela semana, viveram um amor intenso, porém sereno.
Philipe conheceu a simplicidade de um sorriso verdadeiro.
Ashley conheceu a ternura de um homem que, por trás da fama e do poder, tinha um coração que ansiava por amor real.
Na véspera da partida, ele segurou suas mãos com força.
— Eu preciso voltar. Há contratos a fechar... Mas eu voltarei. Um mês, Ashley. Me espere.
Ela sorriu, com lágrimas nos olhos.
— Eu esperarei, Philipe.
Ele deixou seu número, gravou o dela.
Prometeu voltar.
Mas o destino, implacável, tinha outros planos.
Horas depois de deixar Silver Springs, em uma estrada sinuosa entre montanhas, um caminhão desgovernado cruzou seu caminho.
O impacto foi brutal.
No hospital, os monitores apitavam em ritmo irregular.
Philipe jazia em um leito, inconsciente, com o corpo devastado.
Os médicos decidiram por um coma induzido.
Enquanto isso, em Silver Springs, uma jovem mulher olhava para o celular dia após dia, esperando uma ligação que nunca chegava.
E assim, sem saber, dois corações que haviam se encontrado no tempo certo foram tragados por um tempo cruel — e um amor verdadeiro ficou preso entre as névoas do esquecimento