CAPÍTULO UM

CAPÍTULO UM

"AMÉLIA DIAZ

· Decido finalmente observar o tipo de homem que está ao meu lado.

·

· — Falo quando acho que serei ouvida — digo olhando para minhas mãos apoiadas no colo. — Senhor… — acrescento, quando o resto da coragem me abandona.

·

· — O que deixou de dizer por achar que não seria ouvida? — ele pergunta, sem desviar os olhos da estrada. — Diga.

·

· O tom na última palavra soa mais autoritário. Formulo bem minhas palavras para não parecer desrespeitosa.

·

· — A minha ida com o senhor, na tentativa de calar boatos maldosos, é uma loucura descabida. Só vai mudar o foco das fofocas… agora dirão que sou a filha que serviu de consolo para o patrão. — Solto um suspiro junto com a respiração que estava prendendo.

·

· Mesmo sem olhar para ele, sei que está me observando.

·

· — Entendo seu ponto, senhorita Diaz.

·

· Depois disso, ele não diz mais nenhuma palavra até chegarmos à cidade.

· Ele estaciona, desce e abre a porta para mim, estendendo sua mão enorme. Aceito por educação.

·

· Entramos no cartório. Um homem de meia-idade está atrás de uma mesa cheia de papéis. Ele interrompe o movimento do carimbo assim que nos vê.

·

· — Senhor Cobalto! As papeladas das novas terras já estão prontas. Eu iria até o senhor ainda hoje!

·

· — É bom que já estejam prontas, mas estou aqui por outro motivo.

·

· Fico parada ao seu lado como um móvel, imóvel.

·

· — Vim para me casar.

·

· Aperto a barra da minha saia com força, surpresa com suas palavras.

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· — Que bela surpresa! — comenta o escrivão.

·

· O homem se senta novamente. Outro funcionário, no canto da sala, começa a datilografar o que imagino ser a certidão de casamento.

· Logo o papel é entregue ao senhor Cobalto, que assina. Em seguida, ele coloca a caneta na minha mão.

·

· Escrevo meu nome com dificuldade. Faz tempo que não pego numa caneta, e meu nome é a única palavra que sei escrever.

·

· — Parabéns pelo casamento, senhor Cobalto — diz o escrivão, apertando sua mão. Depois olha para mim. — Parabéns, senhora Cobalto.

·

· Não houve um “sim”, nem um “aceito”. Foi só isso.

·

· Senhora Cobalto… eu sou uma senhora agora?

· Tremo ao pensar nas minhas obrigações e responsabilidades.

· Achei que seria apenas uma distração para as noites frias.

·

· AFONSO COBALTO

· Há seis meses, quando buscava um cavalo que havia fugido, vi uma jovem se banhando no lago de uma das minhas propriedades.

· Sua combinação rosa-clara, molhada, grudava nas curvas do corpo pequeno.

· A nudez semi-exposta… os cabelos negros encharcados…

·

· Parecia errado observá-la escondido, mas não consegui desviar os olhos.

·

· Acabei pisando em um galho, que se quebrou. O som a assustou.

· Ela vestiu o vestido às pressas e desapareceu correndo.

·

· Pedi ao Diaz que descobrisse quem era a mulher que estava em minhas terras.

·

· Mas ontem, no enterro da filha mais velha, ele me ofereceu a menina do lago, já sabendo que ela era do meu interesse.

·

· Ele não me entregou quando pedi. Por quê?

· E por que me entregar agora tão facilmente?

·

· Acordei decidido e fui até lá.

·

· — Diaz, a oferta ainda está de pé? — perguntei.

·

· Ele estava sentado diante da casa, bebendo, mesmo com o dia mal clareando. Afogava a dor da perda e dos falatórios.

·

· — Senhor Cobalto — murmurou, surpreso com a minha presença.

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· — Quero o que me ofereceu ontem, Diaz — falei firme. Ele apenas assentiu.

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· — Um momento. — Ele entrou na pequena casa e me chamou para entrar também. — Odete, passe um café para nós.

·

· A mulher, que estava sentada, levantou-se rápido e foi para a cozinha.

·

· — Por que me escondeu a menina, Diaz?

·

· — Achei que era o melhor a se fazer no momento… mas agora vejo que manter uma filha que se dá ao desfrute de ser vista nua não é um bom exemplo para as outras meninas…

·

· — Ela não estava nua, Diaz — digo, e ele toma outro gole, com expressão de dor. — Não aceito que volte atrás depois que eu a levar.

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· — Só tenho um pedido, senhor Cobalto — ele me encara. — Não a mate também.

·

· Ela é silenciosa.

· Errei o nome dela de propósito para ver se falaria.

Fiquei surpreso com o ponto de vista dela sobre os falatórios.

Usando isso, e a possibilidade do pai voltar atrás, decidi que um casamento era o melhor caminho.

Quando entramos na caminhonete, pergunto:

— Melhor assim, senhora Cobalto?

Ela confirma com a cabeça.

— Responda com palavras quando eu falar com você, Amélia.

— Desculpa, senhor.

— Afonso. Me chame de Afonso. Amélia dividirá a cama comigo. — Ela cora. — Então me chame pelo meu primeiro nome.

— Sim, senhor… — ela baixa a cabeça. — Afon… Afonso.

A voz doce dela dizendo meu nome me deixou excitado.

Chegamos à fazenda. Joana, minha governanta, nos recebeu na sala.

Os olhos dela analisavam Amélia como se avaliassem um animal novo no curral.

— Reúna os funcionários da casa — ordeno antes que ela pergunte algo.

Ela assente e desaparece. Logo retorna com quatro mulheres.

— Quero que conheçam Amélia. A partir de hoje, ela é a senhora desta casa.

Amélia mantém a cabeça baixa.

— Boa tarde, senhora! — dizem todas juntas.

Ela ergue o rosto só o suficiente.

— Boa tarde — responde baixinho.

— Em dez minutos o quarto estará pronto para a senhora — diz Joana, com uma cordialidade forçada.

— Arrume as coisas dela no meu quarto. Minha esposa dormirá comigo — anuncio.

A boca de Joana se abre em um “o” de surpresa. Ela se recompõe e sobe as escadas com a pequena mala de Amélia.

— Sinta-se à vontade para conhecer a casa, mas não passe pelos portões sem meu conhecimento. — Ela ajeita uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Olhe para mim e responda se entendeu, Amélia.

Ela me encara, mas desvia logo.

— Entendi, sim, senhor. Não devo sair sem sua autorização.

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