Capítulo 3

Stella Hayes

Quando ele disse que tinha vinte e um anos, franzi a testa. Ele era dois anos mais novo do que Brandon e um ano velho do que eu… mas não parecia. O tal Dominic tinha uma presença tão marcante, tão firme, que era difícil acreditar que fosse apenas um ano mais velho do que eu. Fora a aparência em si. Não que ele fosse feio, ao contrário, era muito bonito e charmoso. Mas ainda assim, não parecia ter essa idade.

A primeira coisa que reparei foi no olhar dele — calmo, profundo, como se me enxergasse além da superfície. Depois, no porte: elegante, seguro, maduro. Cada movimento seu enquanto falava — e me olhava — sorria, gesticulava, vinha acompanhado de uma serenidade quase intimidadora, como alguém que sempre sabia o que estava fazendo. Não dava pra negar: ele era bonito. Muito bonito. E diferente de qualquer homem que eu já tinha conhecido.

A gente se sentou à mesa. O jantar começou meio tenso, com sorrisos forçados e aquele tipo de conversa que servia só para quebrar o silêncio. Mas logo o assunto real veio à tona: a possível união entre mim e… Dominic.

Eles falavam com naturalidade, como se fosse só mais uma negociação. Apoio financeiro, contratos, alianças estratégicas. Como se eu fosse parte do pacote. Irina, é claro, aproveitou para se exibir, toda sorridente, cheia de sugestões para mostrar como eu era uma “boa escolha”.

— Stella é muito obediente, sabe? Discreta, reservada. Vai fazer um ótimo papel de esposa, eu garanto. — disse ela, me lançando um olhar que parecia mais uma ameaça velada para que eu não a contrariasse. Não que eu pretendesse fazer isso. Lembrava bem da conversa no quarto do Nolan após ser acusada de seduzi-lo. — Já falamos sobre isso em casa, mas acredito que seja importante enfatizar isso a você, Dominic. Você, como homem, deve estar de acordo que Stella não deve trabalhar fora de casa, afinal, você é um homem bem-sucedido, não há necessidade dela ter o próprio dinheiro. Mas principalmente, acho que ela não deve se envolver com outros homens. — Irina falava com o Dominic, mas em meio a um gole de bebida em sua taça de vinho branco, ela olhava para mim com um meio sorriso sugestivo e malicioso, me fazendo entender exatamente a que se referia.

Ela estava deixando claro que, por mais que eu amasse o Brandon, e ele a mim, eu deveria ficar bem longe dele, ou teria problemas.

Eu engoli em seco. Senti o rosto queimar. Que tipo de mãe — mesmo uma madrasta — se orgulhava em colocar a enteada como uma boneca obediente numa prateleira?

Mas o que mais me surpreendeu foi a resposta do Dominic.

Ele olhou para todos à mesa, depois voltou o olhar para mim. Com voz firme, mas suave, falou:

— Não tenho a intenção de limitar a liberdade da Stella. Não me importo com a vida pessoal dela. Apenas quero que evite escândalos na mídia para não afetar minha empresa. Se ela quiser trabalhar, posso oferecer uma posição na empresa. E quanto à vida íntima… isso deve ser uma escolha dela, não uma obrigação.

Naquele instante, senti algo dentro de mim se quebrar. Um tipo de resistência silenciosa, que vinha me mantendo fria e distante. Aquele homem… ele me enxergava como gente. Não como uma moeda de troca. Nem como um fardo.

Ele me olhava como se esperasse uma resposta da minha parte, mas eu não disse nada.

Fiquei quieta pelo resto da noite, apenas observando. A cabeça girava. Era tudo tão irreal — eu, sentada ali, em um jantar que selaria meu destino. Entre um gole de água e outro, pensei em Brandon. No que a gente tinha vivido. Nos planos que fizemos.

Assim que tudo terminou, me despedi educadamente, tentando disfarçar a ansiedade que borbulhava por dentro. Peguei meu celular e mandei mensagem.

Stella: Preciso falar com você. Urgente.

Nenhuma resposta. Mas eu insisti. 

Stella: Por favor, Brandon. Só alguns minutos.

Stella: Me responde.

Esperei. E esperei. A tela do celular permaneceu fria, muda. Sem uma resposta, sem um sinal. Depois de quase uma hora, ele finalmente respondeu:

Brandon: Tô ocupado agora.

A resposta foi curta, seca. Nem sequer mencionou meu nome. Doeu. Mas ainda assim, tentei insistir. Liguei. Ele não atendeu.

Foi aí que eu cometi a tolice. Peguei um táxi e fui até o apartamento que ele costumava alugar. Não tinha certeza do que faria. Parte de mim queria respostas. Outra parte… só queria vê-lo. Precisava ter certeza de que tudo isso — esse casamento arranjado, essa sensação de estar vendida — ainda podia ser evitado.

Ao chegar no prédio onde ficava o apartamento dele, toquei a campainha diversas vezes, mas nada de ser atendida. Bati na porta. Nada. Ninguém atendia. Colei o ouvido na porta na tentativa de tentar ouvir algo lá dentro, mas nada. Parecia não haver ninguém em casa.

Saí de lá, mas não queria voltar para casa. Estar sob o escrutínio da Irina, diante de seu falatório, além de não querer estar perto do Nolan. Só de pensar nisso, me dava ânsia de vômito.

Peguei um táxi e pedi que o motorista apenas dirigisse, até que eu lhe dissesse para parar.

Fui observando as ruas de Detroit iluminadas pelos postes e me sentindo cada vez mais agoniada, confusa. Sem saber bem o que queria fazer.

Até que avistei uma boate e pedi ao motorista para parar. Desci do carro, paguei a corrida e segui em direção à entrada do lugar.

Não sabia bem o que faria ali, sozinha. Só não queria estar em casa.

Enquanto caminhava, esbarrei em um casal que estava aos amassos. Quase transando em público.

— Me desculpe, eu… — Mas quando olhei para o rosto do homem que segurava firmemente na cintura da mulher loira, meu mundo desabou.

Vi ele. Brandon. Com outra mulher. Rindo. Beijando. Como se eu nunca tivesse existido.

— Stella? — quando percebeu que era eu, ficou pálido.

— Sim, sou eu, seu cretino! Idiota! 

— Stella, se acalma. Eu posso… — ele soltou a mulher e tentou me tocar.

— Pode o quê? Explicar? Não, você não pode, estou vendo o que está acontecendo. Não sou idiota! E não me toque! — afastei sua mão.

As pessoas ao redor olhavam, mas eu pouco me importava. 

Senti meu coração se partir em mil pedaços. Minhas mãos tremiam, os olhos marejaram. Sem querer ouvir mais uma palavra do Brandon, lhe dei as costas e pensei em voltar ao táxi, mas sabia que ele partiu no momento em que eu desci do carro. Para completar, as pernas não queriam obedecer. 

— Stella!

Mas uma vez, saí andando, tropeçando nos próprios passos, sem rumo. Ouvindo o Brandon me chamar, tentando me fazer voltar. Mas eu não voltaria.

A chuva começou de repente, como se o céu tivesse decidido chorar comigo.

As ruas estavam vazias. Eu andava sem saber para onde ir, sentindo a roupa colar no corpo, o cabelo grudado no rosto. Meus pensamentos eram uma confusão: vergonha, raiva, decepção. E uma tristeza tão profunda que mal cabia dentro de mim.

Não sabia ao certo como fui parar ali, mas quando percebi, estava sobre uma ponte. Olhei para baixo. A água escura corria depressa, fria e silenciosa. Senti um aperto no peito, uma vontade absurda de desaparecer. De não sentir mais nada.

Fechei os olhos.

Respirei fundo.

E me preparei para pular.

Mas, de repente, dois braços fortes me puxaram de volta. Com força. Com urgência.

— O que você pensa que está fazendo?! Você está louca!? — disse uma voz grave e firme que eu não demorei a reconhecer. Era ele. Dominic.

Me virei, ainda em choque. O rosto dele estava molhado, os cabelos pingando. Mas os olhos… os olhos pareciam em chamas. Uma mistura de medo e fúria.

— Me solta! — tentei me desvencilhar, mas ele me segurou firme.

— Não! — retrucou — Não até você me dizer o que diabos estava fazendo naquela beirada! Eu sou tão horrível assim? A ideia de se casar comigo te faz querer morrer?

As palavras se misturavam com o som da chuva e dos meus soluços.

— Você não entende… não é sobre você… você não sabe o que eu vi, o que eu senti… — minha voz saía fraca, quase um sussurro. — Eu não aguento mais.

Ele me puxou para mais perto, ignorando tudo ao redor. E me abraçou. Um abraço quente, aconchegante, terno. 

— Talvez eu não entenda tudo, Stella. Mas sei quando alguém está no limite. Sei quando a dor é grande demais. — Ele respirou fundo e a voz amaciou. — Você não precisa passar por isso sozinha.

Ficamos ali por alguns segundos, quietos. O barulho da chuva, o som do rio, o bater dos nossos corações. Eu tremia. Não sabia se era de frio, de medo ou da emoção acumulada.

Ele tirou o próprio paletó e colocou sobre meus ombros. O calor do tecido me envolveu. E, pela primeira vez naquela noite, me senti humana de novo.

— Vamos sair daqui. — ele disse, com gentileza. — Eu te levo pra casa.

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