Capítulo 4

Dominic Willians

Eu saí do restaurante com a intenção de clarear a mente. O jantar, as negociações, o descontrole de Brandon... tudo isso girava em círculos na minha mente. Mas havia um nome que se sobressaía em meio à confusão: Stella.

Ela não me saía da cabeça. O jeito calado, o olhar doce — ainda que triste. A maneira como ela observava tudo à sua volta como quem carregava o mundo nos ombros. Tinha algo nela que mexia comigo, algo que eu ainda não sabia nomear.

Entrei no carro, liguei o motor e deixei que as ruas me guiassem. Não pensei no caminho. Só queria distância do que era conhecido, previsível, controlado. Talvez, no fundo, esperasse encontrar respostas no silêncio da cidade.

Foi quando a vi.

Stella caminhava sozinha pela calçada. Os ombros curvados, os passos arrastados, o olhar vazio. Tinha algo errado. Muito errado.

Parei o carro alguns metros atrás, desliguei o motor e desci sem pensar duas vezes. Comecei a segui-la, tentando não chamar atenção. Parte de mim queria apenas abordá-la, puxar conversa, perguntar se ela estava bem.

Mas algo me impediu de falar. Um instinto. Ou talvez a cena que se desenrolava diante dos meus olhos — ela atravessando a rua em direção à ponte. O coração disparou.

Ela subiu no parapeito.

Tudo dentro de mim congelou.

— Stella?! — gritei, correndo até ela, a adrenalina me dominando. E antes que pudesse pensar em qualquer coisa, puxei-a de volta com força.

Ela caiu contra o meu peito, ofegante, encharcada pela chuva fina que caía. Meus braços se fecharam ao redor do corpo dela num reflexo de desespero.

— O que você pensa que está fazendo!? Você está louca?! — Soltei, sem conseguir controlar o tom. O único pensamento que me veio à mente era que eu era tão horrível que a ideia de se casar comigo a fazia querer se matar.

E com isso, as palavras escaparam antes que eu pudesse filtrá-las. Mas, ao olhar o rosto dela e ouvir suas palavras, ouvi-la dizendo que eu não entendia, que não sabia pelo que ela passava, percebi que não era sobre mim. Não apenas sobre mim.

Ela não disse mais nada. Apenas desabou.

Se jogou nos meus braços como se a dor finalmente tivesse encontrado um abrigo. Chorava com o corpo inteiro, soluçando de forma desordenada, como quem guardou por tempo demais tudo o que doía.

E minha raiva... sumiu. Desfez-se no ar, como vapor sob o frio da noite. Tudo o que sobrou foi um aperto no peito, uma compaixão dilacerante. Ela estava sofrendo. Muito mais do que eu imaginava.

Enlacei-a com força, passando a mão devagar por suas costas. Não disse nada. Não havia o que dizer. Às vezes, o silêncio também acolhia.

Quando os soluços começaram a ceder, murmurei:

— Vamos sair daqui... Eu te levo pra casa.

Mas ela respondeu baixo, quase como um pedido:

— Eu não quero voltar pra lá... — a voz embargada — Aquela casa não é mais minha. Eu... não tenho mais um lar.

Fechei os olhos por um segundo. Aquele tom, aquela fragilidade... doía ouvi-la assim.

— Tudo bem. — falei, com firmeza. — Então, venha comigo.

Ajudei-a a entrar no carro. O caminho até minha casa foi feito em silêncio, mas não era um silêncio pesado. Era... necessário.

Ao chegarmos, abri a porta e a conduzi para dentro da mansão, mais especificamente, para o meu quarto. Ela olhava tudo com uma mistura de curiosidade e cansaço. Ainda tremia um pouco, o vestido molhado colado ao corpo, os cabelos grudados na pele.

Tentei aliviar o clima, com um sorriso discreto.

— A noiva não quis esperar nem o casamento para entrar no quarto, o que significa que noivo não é tão horrível assim, né?

Ela soltou uma risada fraca, mas verdadeira. Aquele som me acertou em cheio.

— Você não é horrível, Dominic. Pelo contrário — disse ela, me olhando nos olhos. — Eu só... odeio casamentos forçados. O problema não é você... Por isso eu não me importo tanto…

A forma como ela disse aquilo, tão sincera, tão sem filtros... mexeu comigo. O ar pareceu mudar, tornar-se mais denso, mais quente. Uma tensão doce se formou entre nós.

Ela se aproximou devagar.

Eu não conseguia desviar o olhar. Stella tinha algo hipnótico, uma beleza que ia além do que os olhos podiam ver. Uma força escondida sob camadas de dor. E, naquele instante, senti algo dentro de mim ceder.

— Já que estou me mudando antes do previsto... — ela sussurrou, com um leve brilho nos olhos. — Outras coisas também poderiam acontecer antes do previsto, certo?

Ela se inclinou, devagar, os lábios se aproximando dos meus, pude sentir seu hálito quente, o cheiro do seu perfume. Meu corpo inteiro respondeu, meu pau pulsou. Meu corpo inteiro queria ceder. Queria sentir o gosto dela, apagar tudo o que havia sido turbulento naquela noite.

Mas eu sabia que ela não queria realmente fazer aquilo, ela só queria acabar com seu sofrimento através do toque físico, do beijo, do sexo. Eu não podia fazer isso com ela… Além disso, algo me atingiu como um choque, a realidade me atingiu.

Era para ela ser, até algumas horas atrás, noiva do meu filho.

Minha suposta nora.

Mesmo que Brandon tivesse rejeitado tudo. Mesmo que ele tivesse se mandado. Mesmo que ela estivesse ferida. Era errado. Totalmente errado.

Dei um passo para trás, com o coração disparado. Respirei fundo, tentando recuperar o controle.

— A senha do seu quarto é 3102. — falei, evitando olhar diretamente para ela. — Pode ir para lá. Vá buscar suas coisas amanhã.

Fiz uma breve pausa. Ela me observava em silêncio.

— Boa noite, Stella.

E então me virei. Saí quase apressado, como se fugir fosse a única forma de manter a sanidade. Subi as escadas sentindo o peito apertado, o desejo ainda latente, a confusão borbulhando.

Tranquei a porta do meu quarto.

Encostei a testa na madeira fria e fechei os olhos.

Ela era mais do que um contrato. Mais do que uma aliança estratégica. E o que eu sentia... não era mais racional.

Mas mesmo assim, eu precisava manter o controle.

Por mim. Por ela.

Por tudo o que ainda poderia acontecer.

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