O inverno começava a perder a força, e os primeiros sinais de degelo surgiam nos telhados de Toronto. Bianca, agora instalada na mansão de Helena, sentia-se como uma hóspede em território alheio. Cada manhã era marcada por rotinas que não lhe pertenciam: criadas abrindo cortinas pesadas, o aroma de café servido em louça delicada, os corredores longos e silenciosos que mais pareciam guardiões de um mundo que não a aceitava de verdade.
Na primeira semana após a mudança, Helena chamou uma costureira e encomendou novos uniformes para Bianca. Os tecidos eram impecáveis, as costuras firmes, as saias caíam com a exatidão exigida pelas normas do colégio. Sapatos engraxados, blusas engomadas, fitas de seda para os cabelos. Tudo parecia calculado para que nada destoasse do padrão das meninas ricas que dividiam os corredores da escola.
— É necessário, Bianca — disse Helena, entregando-lhe uma pilha de cadernos novos, de capa dura. — Não quero que pensem que você é uma bolsista ou que está aqui p