O carro avançava pela estrada ainda úmida da madrugada.
Bianca mantinha o olhar fixo na janela, mas não via a paisagem.
Os pensamentos vinham em ondas curtas, incompletas — como passos que se aproximam, mas nunca entram.
Apenas por alguns minuto conseguiu adormecer.
Não dormira.
No banco da frente, o motorista seguia em silêncio.
Lúcia estava ao lado dela, com as mãos entrelaçadas no colo, como quem guarda algo que não pode perder.
Quando as grades da mansão surgiram ao longe, Bianca sentiu o corpo reagir antes da mente.
O peito se abriu num suspiro que não era alívio — era um retorno involuntário, como se algo dentro dela reconhecesse território.
O portão se abriu por dentro.
Nenhum esforço dela.
Nenhum risco.
Apenas o som metálico obediente — e a certeza de que ali ninguém testava maçanetas no escuro.
O carro parou diante da entrada principal.
Helena já os esperava.
Não sorriu.
Não correu.
Apenas estava ali — de pé, impecável, como se já soubesse tudo o que havia aco