Passou um mês desde a última carta de Alberto. O frio mais intenso havia cedido lugar a um vento morno, que anunciava dias mais longos e tardes menos cinzentas. A vida no casebre, no entanto, seguia quase imutável — com suas paredes marcadas pela umidade e o som constante do mar, que parecia carregar e devolver sempre as mesmas ondas, dia após dia.Naquela manhã, Bianca acordou com um murmúrio diferente vindo da cozinha. O cheiro do pão assando misturava-se a um leve aroma de temperos que raramente sentia tão cedo. Ao se vestir, notou que Esther e Lúcia trocavam olhares que tentavam disfarçar um sorriso.— Feliz aniversário, passarinho — disse Lúcia, surgindo na porta com um embrulho no colo.Bianca piscou algumas vezes, como se precisasse confirmar que era mesmo para ela. Quando abriu o pacote, encontrou uma boneca de pano, com cabelos trançados de lã castanha e vestido florido. O rosto simples, bordado à mão, parecia sorrir para ela. Bianca passou os dedos pelo tecido com cuidado, c
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