A noite não terminou quando o vizinho foi embora.
Na verdade, parecia nem ter começado.
Lúcia trancou a porta pela terceira vez, certificou-se das janelas, apagou as luzes.
A casa ficou mergulhada num silêncio que não era o de costume — era o silêncio tenso de quem espera que algo volte a acontecer.
Bianca estava sentada na cama, as pernas cruzadas, abraçando um travesseiro com força.
A carta de Rafael permanecia na mesa de cabeceira, dobrada com cuidado demais para ser apenas papel.
Lúcia entrou devagar.
— Consegue dormir um pouco? — perguntou, tentando manter a voz firme.
Bianca balançou a cabeça imediatamente.
— Não.
A babá sentou-se ao lado dela, apoiando as mãos no colo.
— Eu entendo. — Ainda estou assustada também.
Bianca ergueu o rosto, surpresa.
Lúcia nunca dizia que estava com medo. Nunca.
— Ele… voltaria? — perguntou Bianca, baixinho.
— Acho que não — disse Lúcia, mas havia hesitação no olhar. — O vizinho fez barulho, chamou atenção. Essas coisas… às vezes são gent