A noite caiu sem pressa, como se tivesse sido puxada pelas bordas do céu até cobrir o vale inteiro com uma manta grossa. Nenhum lobo uivou quando as primeiras sombras surgiram; eles pareciam igualmente atentos, farejando o vento como se procurassem o rastro de algo que ainda não tinha forma.
Helena percebeu isso cedo — e decidiu que aquela não seria uma noite de vigias espalhadas.
— Hoje, ficamos nós três — anunciou, enquanto recolhia duas lamparinas e chamava Kael com um gesto simples.
Ele entendeu antes que ela falasse qualquer outra coisa.
A expressão dele era calma, mas carregada da mesma tensão que fazia as paredes vibrarem desde a visita da Vara de Contas.
Lyria seguiu os dois com passos pequenos, mas firmes. Trazia a concha rachada nas mãos, como se carregasse um pedacinho do mundo que precisava manter inteiro.
A sala escolhida ficava perto da ponte — uma das mais antigas da casa, onde os riscos do antigo guardião cobriam as paredes como cicatrizes sagradas. Aquele lugar pare