Helena nunca tinha reparado em quanta história cabia numa parede.
Naquela manhã, enquanto a luz fria entrava pelas frestas do salão grande, ela via outra coisa: não pedras… mas linhas.
Riscos.
Arranhões.
Pequenas marcas em cruz, em meia-lua, em meio círculo, escondidos onde só o olhar insistente encontrava.
— A casa está cheia deles — Lyria disse, como quem aponta estrelas. — Só não olhávamos direito.
Helena segurava um pedaço de carvão numa mão e um pergaminho na outra.
Brenno, postado ao lado, mantinha a expressão séria de quem está num campo de batalha invisível.
— Repete — Helena pediu. — Aqui, perto da porta principal. Quantos?
Lyria deslizou o dedo pela madeira.
— Três riscos na horizontal. Um na diagonal, cortando. E duas marquinhas aqui, oh… como se fossem dentes.
Brenno anotava no pergaminho, copiando o desenho o melhor que podia.
— Se isso for mapa, é o mapa mais rabiscado que já vi — resmungou.
Helena esboçou um sorriso breve.
— Mapa de guardião antigo não ia ser fácil.