O dia seguinte amanheceu pesado, arrastado, como se as horas tivessem sido puxadas para baixo da terra junto com o silêncio estranho da noite anterior.
Helena sentiu já ao abrir os olhos:
algo estava… deslocado.
Não errado, mas deslocado, como se alguém tivesse mexido em detalhes mínimos da casa — aqueles que só quem mora há muito tempo percebe.
Kael não estava deitado.
Ele raramente estava, mas dessa vez o cobertor ainda estava quente.
Sinal de que ele havia levantado há poucos minutos.
Helena vestiu o casaco e saiu para o corredor.
No pátio, Kael estava parado diante da porta leste.
Imóvel, o olhar fixo em algo pequeno demais para alguém prestar atenção de longe.
Lyria estava ao lado dele, segurando a concha rachada e franzindo o nariz.
Helena acelerou o passo.
— O que houve?
Kael apontou para a porta.
Não era objeto.
Não era marca.
Não era sombra.
Era um risco.
Uma linha fina e torta, como se uma unha — humana, não criatura — tivesse arranhado a madeira.
Helena se aproximou.
—