Naquela noite, o céu incendiou-se.
A lua, antes dividida, tornou-se um único círculo rubro, como se o próprio sangue de Helena tivesse subido ao firmamento.
O vento uivava em dor.
Os lobos choravam com o focinho voltado pro alto, temendo o que já sabiam.
Erynn subiu à muralha, o manto arrastando rastros de luz pelo gelo.
Os olhos dela refletiam o vermelho celestial.
— A fronteira se abriu — murmurou. — O Norte sangra.
Kael estava de pé abaixo da muralha, o corpo ainda fraco, a voz ausente.
Mas o olhar dele dizia tudo.
Ele sabia.
A lua só ficava vermelha quando o amor era convocado como oferenda.
Helena apareceu entre as sombras, o rosto sereno.
Os cabelos dançavam com o vento, iluminados pelo reflexo do céu.
— É hoje, não é? — perguntou.
Erynn assentiu, triste.
— O Norte quer o que criou Kaen: amor incondicional.
Helena respirou fundo, o coração acelerado.
— Então quer o meu.
Aren dormia, o corpo febril.
Kaen falava dentro dele, voz baixa, sedutora.
— Ela vai te deixar.