O vento amanheceu pesado.
Havia um som nele, baixo e contínuo, como o respirar de um animal adormecido.
O Norte respirava — e cada sopro parecia ter o gosto de ferro.
Kael despertou antes do sol.
Do lado de fora da tenda, a neve estava manchada de vermelho.
Um lobo jazia morto, o corpo ainda quente, o olhar fixo no nada.
Erynn chegou logo depois, o rosto pálido.
— O sangue não congela.
Kael olhou em volta.
— Então não é deste mundo.
Helena saiu, enrolada em mantos.
— Acordaste Aren?
— Ele dorme. — Kael passou a mão pela cicatriz na garganta. — E, dormindo, ainda fala.
O vento mudou de direção.
As árvores dobraram, uivando.
E no ar, espalhou-se um murmúrio — o mesmo nome, repetido em diferentes vozes:
Kaen. Kaen. Kaen.
Helena se encolheu.
— Estão sonhando com ele.
— Não — respondeu Erynn, — estão sendo sonhados.
O pátio estava tomado por guerreiros.
Alguns tremiam, outros batiam a cabeça contra o gelo, tentando calar o que ouviam.
Ronan aproximou-se de Kael, o olhar febr