O dia amanheceu sem promessa. Não houve luz especial, nem presságio claro. Apenas aquela sensação incômoda de que algo já tinha começado a mudar antes mesmo de alguém nomear o movimento. A casa despertou aos poucos, como se tivesse passado a noite inteira prendendo a respiração.
A mãe foi a primeira a levantar. Preparou o café com gestos automáticos, mas o pensamento estava distante, preso a fragmentos da conversa da madrugada. Cada xícara apoiada na mesa soava mais alta do que deveria. Cada ruído parecia anunciar um desequilíbrio iminente.
O pai apareceu pouco depois, com o rosto marcado por um cansaço que não vinha da falta de sono, mas do excesso de vigília interior. Sentou-se sem dizer nada. Os dois compartilharam aquele silêncio desconfortável, que não era mais o silêncio antigo — aquele que anestesiava. Era outro. Um silêncio em alerta.
— Eles vão perceber — disse ele, por fim.
Ela não perguntou quem. Sabia.
— Já estão percebendo — respondeu. — Só não sabem o quê.
Os filhos come