A madrugada avançava com a lentidão de quem sabe que não será esquecida. A casa permanecia acordada, mesmo quando as luzes se apagavam uma a uma. Havia algo diferente naquela noite — não um evento, não um ruído específico, mas uma densidade no ar, como se o espaço estivesse mais cheio do que deveria.
A mãe levantou-se novamente. O sonho ainda pulsava atrás dos olhos. Não era a primeira vez que acordava assim, mas nunca fora tão vívido. Caminhou descalça pelo corredor, sentindo o frio do piso subir pelas pernas, lembrando-a de que ainda estava ali, naquele tempo, naquela história.
Parou diante da porta do quarto dos filhos. Não entrou. Apenas ficou ali, escutando a respiração deles, como fazia quando eram pequenos e tinham febre. Aquela vigília silenciosa sempre fora sua forma de amar — observando à distância, garantindo que tudo permanecesse no lugar.
Mas nada mais estava exatamente no lugar.
O pai permanecia na sala, sentado no escuro. Não acendera a televisão. Não mexia no celular.