A manhã seguinte nasceu com uma claridade indecisa, como se o sol também estivesse testando o terreno antes de avançar. A casa acordou diferente — não mais silenciosa, mas contida. Havia passos, água correndo, portas abrindo e fechando. Tudo funcionava. E, ainda assim, nada estava no lugar exato.
O pai foi o primeiro a perceber que o corpo estava reagindo antes da mente. Um peso nos ombros, uma pressão leve na base do pescoço, o tipo de sinal que ele costumava ignorar. Não ignorou. Vestiu a camisa devagar, observando o reflexo no espelho como quem tenta reconhecer um rosto antigo sob uma camada nova de cansaço.
Pensou na ligação da noite anterior. Pensou no nome que não foi dito em voz alta, mas que ocupava cada fresta do pensamento. Havia histórias que não envelheciam; apenas esperavam a hora certa para cobrar juros.
Na cozinha, a mãe preparava o café novamente, mas agora com atenção exagerada aos detalhes: a colher alinhada, o pó medido, a chama baixa. Precisava de ordem para não de