Existem coisas que não anunciam sua chegada. Elas simplesmente começam a se mover.
O pai saiu de casa mais cedo naquele dia. Precisava caminhar. Precisava colocar o corpo em movimento para não enlouquecer com o que se formava dentro da mente. Andou pelas ruas conhecidas como se fossem território estranho, observando casas, janelas, pessoas que seguiam suas rotinas sem imaginar o quanto o mundo podia se reorganizar em silêncio.
Ele pensava em escolhas. Não nas grandes — essas sempre recebem nomes, datas, explicações. Pensava nas pequenas. As quase imperceptíveis. Aquelas que, somadas, constroem destinos inteiros.
Uma palavra não dita.
Uma porta que não foi aberta.
Um telefone que não tocou.
Lyria existia nesse espaço entre o que foi evitado e o que ainda insistia em acontecer.
Enquanto isso, a mãe permanecia em casa, tentando manter o cotidiano funcionando. Lavou roupas, organizou armários, fez tarefas que exigiam o corpo para evitar que a mente fugisse para onde não deveria. Mas cada