Lúcia
Acordei antes do sol nascer. O céu ainda estava tingido de azul escuro, e o silêncio da casa parecia mais profundo do que o normal. Meu corpo estava pesado, não porque havia dormido mal — pelo contrário, eu tinha dormido mais do que nos últimos dias —, mas como se todo o peso das últimas semanas tivesse se acumulado nos meus ombros.
Olhei o celular. 4h40 da manhã.
Sentei na cama e deixei os pés tocarem o chão gelado. Respirei fundo. Será que tudo isso estava mesmo acontecendo? Será que aquele terror todo havia sido real?
A vontade de chorar veio, mas não havia mais lágrimas. Ítalo havia tirado tanta coisa de mim, e ainda achava que podia voltar e tirar o pouco que me restava. Mas algo dentro de mim... se recusava. Eu não queria mais ser a vítima. Eu queria ser forte.
Na teoria, era fácil. Na prática, eu ainda tremia com barulhos no portão. Ainda me assustava quando o telefone tocava. Mas agora eu não estava sozinha. Eu tinha meus tios. Tinha Sabrina. E... Otávio.
Levantei. Tomei