Otávio
O gosto do beijo dela ainda estava nos meus lábios.
Mesmo sentado em frente ao diretor financeiro, com um contrato milionário sendo analisado ponto a ponto, minha mente não estava ali. Eu via os gráficos, ouvia as palavras "câmbio", "projeções do trimestre", mas tudo se embaralhava com a lembrança do toque dos lábios da Lúcia nos meus. Aquela entrega. Aquela urgência silenciosa.
Ela me beijou como se estivesse pedindo para existir ali comigo. E eu... tive que parar.
Tive que me controlar, pois se não tivesse afastado ela e dito que não me devia nada, estaria até agora em seus braços. Admito que grande parte do que me impediu de continuar aquele beijo foi a ocasião em que ocorreu: ela está frágil, talvez confusa e com medo. Eu quero ser o porto seguro dela, mas não quero forçar que ela me queira. Eu a queria, e isto já me bastava. Se ela não me amasse, eu ainda a amaria.
Fui covarde? Ou cuidadoso? Talvez um pouco dos dois, confesso. Mas nada me importava mais do que o bem estar