Lúcia
Meu coração ainda estava acelerado quando saí da sala. Aquela conversa… aquele olhar dele… Tudo em Otávio me desequilibrava.
Mas não era só isso.
Foi a voz da outra. A forma como ela me chamou. Faxineira.
Com escárnio.
Com desprezo.
Eu me afastei da porta devagar, mas parei a poucos passos. Não pretendia ser esse tipo de pessoa — do tipo que escuta atrás da porta —, mas alguma coisa dentro de mim me impediu de ir embora. Uma curiosidade amarga, talvez, ou um instinto de sobrevivência.
Uma das folhas da porta dupla, alta, de madeira escura, estava entreaberta. A outra, completamente fechada. Não dava pra ver nada lá de dentro, mas as vozes… essas escapavam.
Apoiei as costas na parte de madeira e me deixei ali, parada, como se meu corpo soubesse que algo importante ainda estava prestes a acontecer.
Foi quando senti alguém ao meu lado. Levei um leve susto.
Era Ana, a secretária do Otávio. Estava com o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio. Tentei