O iate balançava suavemente, mas o ar entre os três estava carregado de tensão. No meio daquele turbilhão de emoções, Ruth se via isolada, encurralada diante do mar revolto, como se ele refletisse o caos dentro de si. — Qual é a minha sentença por gostar de alguém comprometido?! — gritou, com os olhos marejados e a voz embargada. Valentina soltou uma risada debochada, cortante como lâmina. — Quer que eu te jogue no mar? Ou prefere um showzinho particular? Sei lá, podem dançar um tango pra mim... Seria bem romântico. Victor ficou perplexo. Aquela faceta de Valentina o desconcertava — era imprevisível, quase cruel. Ruth, porém, não se calou. — Eu não sou seu brinquedo, Valentina. Não vou me curvar aos seus caprichos. E não tenho medo de holofotes. Diferente de você... que precisa fingir amor pra conseguir atenção. As palavras cortaram fundo. Valentina tremeu por um segundo, mas ergueu o queixo, mantendo a pose. Victor tentou apaziguar.— Vamos dançar. Só pra mostrar que não é
A água escorria em fios dourados pelo corpo de Valentina, a névoa do banheiro embaçando os contornos de seu reflexo no espelho de mármore. Seus dedos afundaram nos próprios ombros, marcando a pele alva enquanto revivia cada momento do iate.Victor dividido. Ruth abalada. Ela, radiante.Mas, apesar da vitória silenciosa, ainda não estava pronta para a catada final. Ainda não. Ela ainda queria se divertir mais, saborear o controle, como quem degusta lentamente um cálice de vinho. A adrenalina de manter tudo do seu jeito — o charme da conquista, os jogos de influência e poder — era mais prazerosa do que o próprio desfecho.O celular vibrou sobre a bancada de ônix. Uma mensagem de Carlito:"Precisamos te mostrar os planos para a sua festa. Na minha casa, às 21h".Valentina sorriu, enrolando a toalha em torno do corpo ainda úmido. Apagando as gotas do espelho embaçado com a palma da mão. Seu reflexo a devolvia: cabelos sedosos e molhados, olhos afiados como vidro quebrado, a marca de Victo
O telefone tocou três vezes antes de cair na caixa postal. Valentina apertou o celular com tanta força que seus dedos ficaram brancos. A voz automática soava como um ataque naquele momento. Ela desligou bruscamente, sentindo a pulsação acelerada.— Maldito, covarde! Onde tá se escondendo, miserável? — Suas palavras saíram entre dentes cerrados, com fúria.No meio daquele caos, saiu disparada da empresa. Os saltos ecoavam pelos corredores e os olhares curiosos dos funcionários foram ignorados. A raiva borbulhava dentro dela, como champanhe prestes a estourar. Quando atravessou a porta giratória de vidro, o pôr do sol parecia zombar do seu humor sombrio.Do lado de fora, ela ordenou que mandassem preparar imediatamente o jatinho. Iria para Genebra, necessitava ter uma conversa com seus pais. Mas, antes, precisava passar em casa. Carecia ver com os próprios olhos o marido. Encarar aquele cínico, sua expressão diante da descoberta.O carro deslizou pela avenida, enquanto seus dedos nervos
O telefone vibrou mais uma vez sobre o console do carro, rompendo o silêncio da noite como um sussurro urgente. Victor, recostado no banco de couro, lançou um olhar preguiçoso para a tela. "Valentina: 21 chamadas não atendidas."Havia um sorriso contido, quase infeliz, brotando em seus lábios.— Que gracinha… — suspirou, com certa ironia. — Minha amada já começou a surtar. Ao lado dele, Lorenzo dirigia com firmeza pela estrada de barro, com os olhos fixos na estrada que cortava as sombras do campo. O contraste entre o homem de terno violeta impecável e o ambiente decadente era quase cênico: árvores, galhos secos, mata rasteira e neblina rastejante.— Ela descobriu a sua farsa? — Perguntou, sem tirar os olhos da pista.— Acho que não. Mas já deve estar farejando algo. O desespero dela me diverte.Lorenzo arqueou a sobrancelha e esboçou um sorriso, satisfeito.— É perigoso brincar com uma mulher tão esperta quanto a sua.Victor soltou uma risada breve, sarcástica.— Justamente, por iss
A atmosfera na Enterprise era densa como fumaça de incêndio. Pelos corredores, em cada departamento havia murmurinhos. Junto à máquina de café, não se falava em outra coisa: o ataque hacker. Documentos internos expostos, contas bloqueadas, transações suspeitas. A diretoria estava reunida em uma videoconferência com pautas intermináveis. Olhares desconfiados, dedos apontados para todos os lados. A notícia acabou sendo vazada para a imprensa, e agora as especulações ameaçavam desmoronar a reputação da gigante empresarial que Ramon Lancaster e seu pai, ainda em vida, haviam edificado com tanto zelo. Agora tudo parecia estar por um fio.Os seguranças dobraram a atenção, a TI parecia em guerra. Na VIVA, a agenda de Valentina foi imediatamente cancelada. Todos naquele momento já desconfiavam: ela deveria estar se escondendo, em algum lugar distante, tentando conter o dano. Já que as contas pessoais dela tinham sido congeladas preventivamente, enquanto uma auditoria minuciosa varria cada ce
O coração disparou, antes mesmo que ela abrisse os olhos. O despertador tocou pela terceira vez, até que Alice finalmente se levantou, em um salto, como se tivesse levado um choque. Tinha passado a madrugada acordada em meio a resolução de problemas de projetos do seu chefe.A garota correu para o banheiro, e o espelho lhe devolveu o reflexo: os fios de cabelo loiro-mel um caos, os olhos âmbar arregalados em suto, vencido pelo cansaço, escovou os dentes com pressa e jogou água gelada no rosto. Não havia tempo para grandes ajustes, então fez um coque improvisado, colocou sua bolsa no ombro e desceu as escadas às pressas, desviando do seu irmão mais novo, Tomás, que bloqueava a passagem com uma mochila gigante.— Droga, vou chegar atrasada de novo! — Resmungou, conferindo a hora.Morar com os pais e dois irmãos, um de doze e outro de vinte anos, significava uma rotina caótica. Entre discussões sobre quem usaria o banheiro primeiro e a briga por café da manhã, sair no horário era quase um
O eco das palavras de Dora e dona Santa ainda eram penetrantes quando a assistente se afastou da copa.“Quando Valentina aparece, alguém sempre se queima... dá última vez foi o assistente.”Essa frase martelava em sua mente como um alerta que não podia ser ignorado. Um peso invisível, como se estivesse carregando um segredo perigoso demais para ser compartilhado. Caminhava pelos corredores, tentando reorganizar os próprios pensamentos, mas cada passo a arrastava para um turbilhão de suposições. A esposa do chefe não saía da sua cabeça, como se tivesse deixado nela uma marca invisível. Era mais do que a imagem de uma mulher deslumbrante. Era a forma ousada, envolvente. Um olhar que ultrapassava a pele.Passou por alguns departamentos, trocando sorrisos automáticos com os colegas. Mas por dentro, era como se estivesse em outra dimensão. Cada vez que sorria, sentia que estava sendo forçada. Era difícil se concentrar com tanta coisa fervilhando por dentro.Estava tão distraída, que quando
A sala de reuniões estava impecavelmente organizada, mas o ar quente e carregado de expectativa fazia o ambiente parecer menor. Alice distribuía os papéis da campanha, sentindo a pressão pairar sobre a equipe. A nova fragrância de outono não poderia ter falhas, e ela sabia que tudo dependeria da forma como a reunião acontecesse.O som suave da porta se abrindo fez com que algumas cabeças se virassem. Valentina entrou. Seu andar era impecável, a postura tão precisa que, por um instante, parecia que tudo ao redor perdia importância.O vestido formal lhe caía como uma segunda pele, e ao se aproximar da mesa, Ao atravessar a porta, com um leve sorriso, sentou-se na cadeira mais próxima, cruzando as pernas de forma impecável. pousou sua bolsa tiracolo na cadeira ao lado e retirou os óculos escuros com um gesto fluido, deixando-os sobre os papeis. Valentina possuía um gesto elegante. Ela demonstrava tanta naturalidade que até as luzes da sala pareciam se ajustar à sua presença. Antes de mai