Lucila
O jato particular cortava o céu noturno como um fragmento silencioso ligado às estrelas. Dentro da cabine, a penumbra era pontilhada por pequenas luzes de leitura que lançavam reflexos suaves sobre o couro claro dos assentos.
Lucila sentia o aroma sutil de couro e ar condicionado misturado ao leve traço de perfume residual, um sillage discreto de gardênia que escolheu ao se trocar antes de partir. Do lado oposto, Vitório permanecia compenetrado na tela de seu tablet; o brilho frio do display refletia em seus olhos profundos, enquanto ele golpeava a superfície com toques precisos. O zumbido do motor parecia um pano de fundo distante, quase meditativo, mas para ela tornava-se um lembrete incômodo de sua solidão.
Ela ajeitou-se na poltrona, vestindo o vestido azul-marinho de seda leve, salpicado de poás rosa-pálido que balançavam suavemente sobre suas pernas quando cruzava discretamente os pés.
O tecido era confortável o bastante para uma viagem longa, mas ainda assim elegante,