Maya Stone
No dia em que completei sete anos, lembro-me bem do presente que meu pai me deu.
Era um colar, com o brasão da nossa família.
"Jamais esqueça que sua mãe está te olhando do céu, pequena Maya."
Apertei aquele colar contra o peito com força. Era tudo o que me restava. Eu não sabia quase nada sobre minha mãe, apenas que ela havia partido cedo demais.
Após estar cara a cara — e boca a boca, literalmente — com James Grant, saí esbaforida da sala de jantar.
Sem fome. Sem forças. Vazia.
Me perguntava por que a vida precisava ser assim. Por que eu?
Eu sinceramente… não sabia.
Uma batida na porta me tirou do transe.
— Vi que não comeu no jantar. Trouxe isso para você.
A figura de um homem alto, de cabelos negros, surgiu à entrada. Recuo instintivamente. Ele deposita uma bandeja sobre a pequena mesa do quarto.
Seus olhos azuis me lembravam os de James, mas havia algo diferente neles. Não eram frios. Nem cruéis.
— Quem é você? — perguntei, desconfiada.
— William Grant — respondeu com naturalidade. — Não precisa ter medo, eu não mordo. Só com as minhas presas. — fez uma piada.
— Você é irmão...
— Do Alfa? Sim. Sou o gamma da alcateia. Também conhecido como o capitão da guarda.
— Por que está sendo gentil?
Ele sorriu de lado, um sorriso leve, quase reconfortante.
— Sou gentil com quem merece... e com fêmeas bonitas como você senhorita Stone.
Antes que eu pudesse responder, passos pesados ecoaram pelo corredor. A porta foi escancarada.
JAMES.
Eu me assustei e me recolhi na cama.
Ele entrou como uma tempestade, olhos faiscando, mandíbula travada e os punhos cerrados.
— O que está fazendo aqui? — a voz dele era baixa, mas carregada de fúria.
— Apenas sendo educado com a sua... — William ergueu as mãos num gesto teatral. — Você devia tentar, irmão. Ser educado, quero dizer.
James avançou até a mesa, pegou a bandeja com violência e a arremessou contra a parede.
— ELA NÃO PRECISA DA SUA BONDADE. MUITO MENOS DA SUA PRESENÇA. — rugiu, os olhos brilhando com o dourado da fúria lupina.
William arqueou uma sobrancelha, e o sorriso sumiu.
— Parece que alguém está com medo de perder o controle... Ou de que a humana goste mais de mim do que de você.
Eu estava paralisada. Em que inferno eu fui me meter? Não conseguia falar. Nem respirar. Tudo o que eu queria era sumir daquele lugar. Fugir deles.
Mas eu não tinha um lobo. Não tinha forças. Não tinha nada.
William saiu, satisfeito por provocar o irmão. James se virou para mim, ainda tremendo de raiva como se a culpa daquilo recaísse sob minhas costas.
— Não quero você perto dele. Estamos entendidos? — ele me segurou pelo braço.
Apenas assenti com a cabeça engolindo o medo que atravessava a minha espinha. Ele me causava arrepios.
Quando ele saiu fechei a porta com as mãos trêmulas e me joguei na cama. Minha cabeça rodava.
O que estava acontecendo comigo? Com a minha vida?
Aquela casa era sufocante. Aqueles homens, ainda mais.
Me encolhi, abraçando os joelhos, e enterrei o rosto nos lençóis. Me forcei a dormir, torcendo para que o sono me libertasse. Nem que fosse por algumas horas.
Mas não foi o suficiente.
Acordei no meio da madrugada com a garganta seca. Uma sede absurda.
Levantei devagar, vestindo apenas a camisola leve que a empregada havia deixado mais cedo. A mansão estava silenciosa.
Criei coragem e abri a porta do quarto.
Caminhei até o fim do corredor, os pés descalços mal fazendo som no mármore gelado. Mas, ao virar a esquina, alguém me empurrou contra a parede com brutalidade.
— EU SABIA! — a voz de Ísis cortou como uma lâmina.
Os olhos dela estavam dilatados, cheios de ódio.
— Você acha que vai tomar o meu lugar, né? Vadiazinha sem lobo — cuspiu as palavras como veneno. — Ele é MEU! Essa casa, essa alcateia... tudo deverá ser meu! Maldita hora que a minha mãe resolveu te acolher.
— EU NÃO QUERO ELE! — gritei, tentando empurrá-la, mas ela era mais forte. — Pode ficar com ele! E sua mãe não resolveu me acolher, ela me pegou para poder roubar tudo que era meu por direito, inclusive minha herança!!
Ela me pressionou com ainda mais força contra a parede.
— Cala a boca. Eu vi como ele te olhou. Vi o jantar. O vestido. Vi tudo. Acha que pode fingir ser uma de nós?
Ela aproximou o rosto do meu, o ódio em seus olhos queimava.
— Você nunca será nada, Maya. Nunca. Nada além de uma rejeitada.
Quando finalmente me soltou, eu escorreguei pela parede até o chão. Meu corpo tremia. Ouvi os passos dela se afastando no escuro.
As lágrimas ameaçaram cair, mas eu me recusei. Não mais.
Levantei com dificuldade e segui cambaleando até a cozinha. Tudo o que eu queria era um pouco de água. Mas foi então que ouvi.
A voz dele.
James.
Ele estava na sala ao lado, conversando com alguém. A porta estava entreaberta.
Aproximei-me em silêncio.
— ...não me importa se ela quer ou não — ele dizia. — Ela vai me dar um herdeiro e a matilha vai se acalmar. É isso que basta.
— A fêmea parece frágil, Alfa — respondeu outro homem. Talvez o Beta. — E se ela for humana mesmo?
— Frágil ou não, ela precisa cumprir seu papel. Um filho meu acalmará a matilha, e não preciso de vinculos com a mãe dele.
A voz dele era fria. Cruel. Prática. Como se eu fosse apenas... um receptáculo.
— E por que não a outra? — o Beta perguntou. — Ela parece treinada e...
— Não te devo explicações dos meus desejos, Luke.
Meu coração quase parou.
As palavras me atingiram como uma marretada.
Fechei a porta do quarto com as mãos trêmulas e caí de joelhos no chão.
Eu era isso para ele? Um útero? Um plano estratégico?
Apertei o colar da minha mãe com tanta força que doeu.
Amanhã...Eu fugiria nem que fosse sangrando pela floresta. Eu não seria escrava de ninguém novamente.
Muito menos daquele demônio em forma de lobo,o Alfa supremo James Grant.