O terceiro e último dia da Festa das Raízes amanheceu com cheiro de chão molhado.
A chuva tinha caído fina durante a madrugada, lavando o pó, o sangue seco da tensão, e talvez até umas mágoas antigas. Agora o sol batia firme nas telhas, secando a roupa no varal e aquecendo o peito do morro como um abraço de mãe. Era dia de celebrar. De respirar fundo e sorrir sem medo.
Na quadra da ONG, a criançada já esperava ansiosa. Pés descalços, olhos brilhando, luvas de boxe nas mãos pequenas. Hoje era o “Aulão do Professor”, o momento mais esperado da festa.
E lá vinha ele.
Theo surgiu com a camiseta branca suada, cabelo bagunçado, e aquele sorriso de quem se encontrou. Carregava uma sacola com doces e uma energia de moleque de doze anos.
— Hoje a gente não vai só lutar! — gritou ele, com a voz empolgada. — Vai ter premiação pra quem fizer a melhor esquiva… e brigadeiro pra quem me derrubar no chão!
— Ebaaa! — gritaram várias vozes infantis ao mesmo tempo, pulando, rindo, batendo palma.