O som do liquidificador explodiu na cozinha comunitária logo às sete da manhã. Mariana estava preparando seu famoso suco “levanta defunto” — um misto de maracujá com gengibre e pimenta, que ela jurava curar desde ressaca até coração partido. Cebola, sentado no balcão, só observava com um olhar de quem já sabia que ia se arrepender de experimentar.
— Se isso aí fosse aprovado pela Anvisa, minha filha, tava vendendo em farmácia! — ele resmungou, coçando a barriga.
— Cala essa boca, Cebola, que ontem tu tava chorando atrás da Karine de novo. Vai ver se ela te quer! — Mariana rebateu, cheia de si.
Zé do Gás entrou logo depois, já com a camisa colada de suor.
— Cadê o Binho? Preciso dele pra montar as estruturas pro campeonato, e aquele menino some mais que promessa de político!
Na ONG, a movimentação era real. As faixas do campeonato começavam a ser desenhadas, a quadra ganhava nova pintura e a galera tava pilhada. Era o primeiro grande evento desde que a paz entre os morros se firmo