ENZO
A sala da terapeuta tinha brinquedos coloridos, um tapete fofinho no chão e cheiro de lápis de cor. Parecia uma escolinha, mas eu sabia que não era. Porque lá, ninguém mandava desenhar árvore nem contar até dez. Lá, queriam que eu falasse.
E eu não gostava de falar. Falar fazia um nó na garganta. Igual quando a gente tenta chorar escondido e não consegue respirar direito.
A terapeuta tinha um jeito calmo, bem calmo, como a tia Márcia quando me dava doce escondido da mamãe. A voz dela era baixinha, tipo música de ninar. Mas mesmo assim... meu peito ficava apertado.
Ela me mostrou uns bonecos. De madeira. Tinha um com cabelo comprido, outro com camisa azul, um bem pequeno. Disse que eu podia brincar. Mas eu sabia. Não era só brincadeira. Era pra eu mostrar o que sentia. E eu... nem sabia direito o que sentia.
Fiquei olhando pros bonecos. Peguei o de camisa azul — o papai. Depois a de cabelo castanho e vestido florido — a Sofia. E então, o pequenininho — o filho. Eu.
Coloquei os trê