Eduardo
Sofia chegou em casa mais tarde que o habitual. Vestia um casaco leve, o cabelo preso num coque bagunçado e o olhar... diferente. Era o mesmo rosto que eu amava, mas havia algo em seus olhos que doía de ver. Uma sombra discreta, uma tensão contida. Como quem passou por um furacão e ainda sentia o vento nos ossos.
Enzo correu até ela assim que a porta se abriu. Sofia sorriu — aquele sorriso que sempre parecia iluminar tudo —, pegando o filho nos braços e enchendo-o de beijos. Mas até esse gesto, que sempre vinha leve, parecia mais lento, mais cansado.
Observei à distância, em silêncio. Esperando o momento certo para chegar mais perto. Quando Enzo se acomodou no sofá com um brinquedo qualquer, ela largou a bolsa no canto e tirou os sapatos, indo até a varanda. Eu já estava lá, com duas xícaras de chá ainda soltando vapor. Camomila, como ela gostava. Estendi uma delas sem dizer nada. Ela aceitou.
— Foi hoje, né? — perguntei, direto.
Sofia assentiu, o olhar perdido em algum p