Lisboa | Portugal
SOFIA
Primeiro dia no estágio. Visto a blusa mais confortável que tenho, amarro o cabelo e coloco o crachá com meu nome. "Estagiária – Sofia Ferraz." Parece simples. Mas o peso dessas palavras, aqui, carrega algo novo. Algo mais real.
O centro comunitário fica num bairro afastado, com ruas estreitas e prédios pichados. Cheiro de fritura vindo de janelas abertas, crianças correndo descalças no pátio. Chego com a mochila apertada no peito e o coração ainda mais.
Sou recebida por Joana, a coordenadora da ONG. Fala rápido, anda com pressa e tem os olhos atentos a tudo.
— Aqui não tem muito tempo pra adaptação, Sofia. A realidade é crua. A gente ouve, acolhe, orienta. Às vezes só escuta. Outras, precisa intervir. Você tá pronta?
— Acho que sim — respondo, mesmo sem tanta certeza.
O primeiro caso me atropela. Uma mãe cabo-verdiana, com três filhos pequenos, sem documentação regular e prestes a ser despejada. Fala baixo, mas os olhos gritam desespero. Anoto tudo. Sinto as