SOFIA
Acordei com a cabeça latejando, como se a noite tivesse me arrancado cada gota de paz que ainda existia em mim. A verdade — aquela que Eduardo finalmente havia me revelado — ainda pulsava no meu peito como uma ferida aberta. Mas alguma coisa dentro de mim havia mudado. A vulnerabilidade deu lugar à clareza. A dúvida cedeu espaço à estratégia. O medo continuava ali, é claro, mas agora... era faca afiada. Combustível. Instinto de sobrevivência.
Ouvi os passinhos de Enzo no corredor, seguidos por uma gargalhada alta, inocente, como só uma criança é capaz de soltar. Ele passou correndo com seu pijama de dinossauro, os cabelos bagunçados e um brinquedo na mão. Riu de uma piada que provavelmente só ele entendia. Meu coração apertou. A leveza dele era o lembrete mais cruel e mais necessário: era ele quem estava em risco. Era a nossa família, o nosso lar. E eu não ia permitir que nada — nem ninguém — destruísse isso.
Caminhei até o escritório e encontrei Eduardo em pé, de costas pra mim