EDUARDO
O silêncio entre nós era tão denso que dava pra ouvir o som da minha culpa batendo no peito. Depois que ela disse que queria saber tudo, minha garganta secou. Não era só contar... era me despir. Rasgar o peito e deixar as feridas expostas. Sofia merecia isso. Mas como contar um passado que eu mesmo tentei enterrar?
Ela continuava ajoelhada na minha frente, os olhos fixos nos meus, e as mãos suaves segurando meu rosto como se pudesse me manter inteiro. E talvez pudesse. Porque era dela que vinha a única paz que eu conhecia. A mulher que me arrancou da escuridão. Que me fez amar de novo, confiar, sonhar. E agora eu estava prestes a colocá-la em perigo. Por causa do que eu fui. Do que escondi.
Respirei fundo, sentindo o gosto amargo da vergonha na boca.
— Eu conheci gente perigosa antes de te conhecer. Muito antes. — A minha voz saiu rouca, trincada. — Foi numa época em que o poder era meu vício. O controle, minha obsessão. Eu era jovem, idiota, ambicioso... e cego. Cego a ponto