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Vai precisar de energia.

Acordo meio perdida, como se tivesse dormido num lugar que não é meu. Preciso de alguns segundos até lembrar: não é meu apartamento apertado. É o quarto enorme da mansão Lancaster. Silêncio demais. Espaço demais. Tudo demais.

Pego o celular ainda com metade do rosto afundado no travesseiro.

Nenhuma mensagem.

Nada da minha mãe.

O peito aperta daquele jeito familiar, cansado. Não é surpresa ela sumir. Mesmo assim, dói.

Abro as notificações.

Três mensagens do dono do apartamento.

Precisamos do pagamento hoje.

Último aviso.

Se não houver retorno, vamos prosseguir com o despejo.

Meu estômago vira um nó tão forte que quase me dobra.

Claro que tinha que ser hoje. Claro.

Sento na cama e esfrego o rosto com força, tentando respirar. Mas a respiração não vem direito. O medo sim.

Levanto e começo a me arrumar como se estivesse atrasada para salvar a própria vida.

**

Saio do quarto ajeitando o cabelo e sigo pelo corredor, tentando lembrar o caminho. A casa é tão grande que parece que mudei de universo. Mas o quarto da Aurora fica no fim. Eu reconheço a porta.

Ela está encolhidinha, um pontinho frágil no meio do quarto gigante.

— Bom dia, Aurora…

Ela pisca, confusa, até lembrar.

— Isa… — murmura, com aquela voz de sono que desmonta qualquer coisa ruim dentro de mim.

A manhã dela é lenta. A minha, não.

Pego no colo.

Ajudar no banheiro.

Fralda.

Cantinho de cabelo bagunçado sendo arrumado.

Ela aceita tudo como se já me conhecesse. Como se confiar em mim fosse natural. E isso… me toca.

Quando descemos, Helena aparece. Um bloco de gelo com alma — exceto quando olha para Aurora.

Ela dá instruções enquanto me observa como quem avalia precisão.

O café.

A rotina.

O que pode. O que não pode.

Cada detalhe é uma regra que preciso decorar para não perder o emprego antes do fim do dia.

— Ele já está acordado? — escapa da minha boca antes que eu possa controlar.

— Ele sempre acorda antes de todos — diz Helena com uma certeza que quase me arrepia.

**

Chegamos à sala de jantar.

Adrian está ali.

Sentado à cabeceira.

Impecável. Imóvel. Escuro.

Como se o dia só começasse depois que ele decidisse.

Aurora corre até ele.

— Papai!

E ele muda. O olhar rígido suaviza, só um pouco, quando ela pula no colo dele. É a única cena de calor que vi nessa casa até agora — e é toda dele.

Fico na porta, paralisada, sem coragem de avançar.

Helena me cutuca.

— A senhorita toma o café na cozinha.

Não discuto.

**

A cozinha tem cheiro de café fresco e uma solidão que combina comigo.

Helena me entrega uma caneca.

— Vai precisar de energia.

Não sei se é um aviso ou uma ameaça.

O dia inteiro corre e arrasta ao mesmo tempo.

Aurora é dependente e doce. Carente e quieta. Segura minha camiseta quando se assusta. Me mostra brinquedos novos demais, intocados demais. Procura o pai sempre que ouve passos.

Helena me orienta como se estivesse avaliando cada gesto.

Os seguranças passam como sombras.

E a mansão inteira parece observar.

À tarde, Adrian aparece. Três minutos.

Três minutos e ele muda o ar do corredor.

Fala com Helena, firme, baixo. Não olha para mim.

Mas o perfume dele me atravessa como uma linha reta que eu não pedi.

Quando a noite chega, dou banho em Aurora, seco o cabelo dela e a coloco na cama. Ela segura meu dedo até quase dormir, e eu fico ali, prendendo o ar, sentindo um tipo silencioso de responsabilidade que nunca tive antes.

Quando saio do quarto e fecho a porta, o corredor parece largo demais. E vazio demais para as coisas que começam a pesar dentro de mim.

O despejo.

Minha mãe.

O emprego novo.

As regras.

Ele.

Tudo se mistura até virar uma corda apertada no meio do meu peito.

Eu sei que só tem um caminho.

Mesmo que eu odeie a ideia.

Mesmo que doa no orgulho.

Mesmo que seja arriscado.

Pedir um adiantamento.

Minhas mãos tremem quando paro diante da porta proibida.

O escritório dele.

Bato uma vez, quase sem tocar.

O silêncio segura minha respiração por um segundo longo demais.

Então a voz dele quebra o ar.

Profunda.

Controlada.

Irresistivelmente baixa.

— Entre.

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