Mundo ficciónIniciar sesiónO motorista para diante da mansão como se eu já morasse aqui há anos. A noite caiu, mas a casa continua iluminada daquele jeito exagerado, impecável, quase intimidante.
Coloco minha mochila sobre a cama e começo a arrumar as coisas. Levo menos de cinco minutos para preencher apenas um canto do guarda-roupa.
O resto do espaço fica vazio, gritando uma coisa que eu tento ignorar:
este lugar não foi feito para mim.Mas estou aqui.
E preciso fazer funcionar.Estou fechando a porta do armário quando ouço um som baixinho no corredor. Algo como passos miúdos arrastando pelo chão. Viro devagar.
Aurora está parada na entrada do quarto.
Pequenininha, franjinha bagunçada, um ursinho apertado no peito como se fosse um escudo. Os olhos enormes, curiosos… e assustados. Ela parece uma sombra frágil perdida naquela casa grande demais.
Meu coração amolece na hora.
— Oi… — digo baixinho, sem me mexer muito para não espantar. — Você é a Aurora, né?
Ela só aperta o ursinho contra o rosto.
— Eu sou a Isa.
Aurora dá um passinho para dentro, tímida.
— Seu ursinho é bonito — digo baixinho, apontando só com o olhar. — Qual é o nome dele?
— Luno.
— Luno… adorei.
Aurora mexe nos próprios pés, envergonhada, mas o canto da boca dela levanta só um pouquinho. Um meio-sorriso tímido, o primeiro que ela me dá.
— Você… é a nova babá?
Meu peito aperta. Ela parece tão frágil perguntando isso, como se qualquer resposta pudesse mudar tudo.
— Sou sim — respondo com um sorriso suave. — Se você quiser.
Ela pensa por meio segundo. Depois estica os bracinhos para mim, sem aviso nenhum, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Vem… meu quarto.
É tão espontâneo, tão puro, que eu quase me emociono. Me abaixo e a pego no colo. Ela encaixa a cabecinha no meu ombro.
E é nesse instante, com Aurora agarrada ao meu pescoço, que ouço passos mais firmes no corredor.
Quando levanto o olhar, ele está ali.
Um homem apoiado na lateral da parede, sorriso fácil, olhar quente demais para uma casa tão fria. Cabelo castanho claro, barba por fazer, aquele tipo de charme que parece perigoso e convidativo ao mesmo tempo.
Ele arqueia uma sobrancelha ao me ver com Aurora no colo.
s Aurora se anima toda e quase pula do meu colo para o dele.
— Titiooo!
Ele a recebe no ar com segurança, como se fosse leve como papel.
Eu piscando, ainda tentando acompanhar.
— Você é…? — pergunto, porque ele definitivamente não tem a mesma energia de Adrian.
O sorriso dele cresce, preguiçoso, encantador, quase malicioso.
— Lucas — diz, ajeitando a sobrinha no braço. — Lucas Lancaster.
— A gente vai brincar! Vem, titio!
Lucas ri baixinho.
— Ah, é? Já sequestrou a babá nova?
Ele olha para mim com um brilho divertido, como se eu fosse parte de uma brincadeira que ele adoraria continuar.
— Ela me chamou… — digo, meio rindo, meio sem jeito.
— Quando Aurora chama, ninguém resiste. — Ele dá de ombros, totalmente confortável. — Nem eu.
O contraste dele com o irmão é tão gritante que chega a me confundir. Lucas tem jeito de calor, de gente que fala olhando nos olhos, de quem sabe lidar com crianças e com adultos também, pelo jeito.
— Acho que ainda não me apresentei direito — ele diz, estendendo a mão.
— Isa Duarte — digo, colocando minha mão na dele.
— Prazer, Isa — ele diz, sorrindo.
— Tio… brincar!
— Tá vendo? — ele aponta para ela, rindo. — Ordens superiores.
Aurora estica a mãozinha na minha direção, pedindo que eu vá junto, e meu coração derrete mais um pouco.
— Vamos lá — digo, sem conseguir esconder o sorriso dessa vez.
E seguimos pelo corredor.
Seguimos só alguns passos antes de uma sombra maior cobrir o corredor.
Adrian aparece encostado no batente da porta do próprio escritório, braços cruzados, expressão dura.
— O que você está fazendo aqui, Lucas?
— Vim ver a minha amada sobrinha — responde, apertando Aurora de leve e fazendo ela rir. — E, por sorte, acabei de fazer uma linda amiga.
Antes que eu processe o que ele acabou de dizer, Lucas desliza a mão pela minha cintura. Eu travo. É rápido, quase invisível, mas acontece. A sensação é estranha, invasiva, como um passo dado perto demais. Eu deveria me afastar. Eu sei.
Mas não faço nada.
Não quero parecer mal-educada no meu primeiro dia. Não quero causar problema.
Adrian observa cada movimento. O maxilar dele fica rígido. Há algo ali. Algo que passa rápido, mas eu vejo. Uma faísca que não deveria estar.
Ciúme?
Não. É impossível. Eu acabei de chegar.
Mas mesmo assim… eu sinto.
Não é Lucas que me prende.
É o jeito que Adrian me olha.
Como se eu tivesse tocado algo dentro dele que ninguém deveria tocar







