Há perguntas que não deveriam ser feitas em silêncio.
Porque, quando ficam presas dentro da gente, elas crescem. Criam raízes. Tomam forma, e passam a olhar de volta.
Naquela noite, depois que as crianças dormiram, eu fiquei sozinha na sala ampla da mansão, encarando o porta-retrato que Alice havia deixado sobre a estante. Não o toquei novamente. Não precisava. A imagem já estava gravada em mim com uma nitidez cruel.
O rosto do adolescente. O sorriso aberto. O sinal no canto do olho direito. Igual ao do Eduardo. E ele também se chama Eduardo. Coincidência?
Fechei os olhos por um instante, tentando reorganizar a respiração. Eu precisava ser racional. Profissional. Aquilo podia ser apenas uma coincidência dolorosa, alimentada por um trauma antigo demais para cicatrizar por completo.
Mas meu corpo não acreditava nisso.
O corpo reconhece antes da mente. Será isso instinto materno. Não. Não posso deixar isso me confundir.
Levantei-me devagar e comecei a percorrer a casa com passos