A rotina da casa começou a se revelar mais rapidamente do que eu esperava.
Os horários eram rígidos. As entradas e saídas, calculadas. Os seguranças se alternavam com precisão quase militar. Nada ali era casual — nem mesmo os silêncios. Principalmente eles.
Enquanto ajudava Alice a montar um quebra-cabeça no tapete da sala, observava com atenção o vai e vem discreto dos funcionários. Um deles falava baixo ao telefone, afastado demais para ser trivial. Outro carregava pastas que não combinavam com uma residência familiar.
A casa funcionava como um organismo vivo. E Heitor era o coração pulsando no centro de tudo.
— Valentina — Alice me chamou, puxando minha manga. — Você tá triste?
Sorri, ajeitando uma mecha do cabelo dela.
— Não, meu amor. Só estava pensando.
— Papai também fica assim — ela disse, inocente. — Ele pensa muito.
Meu estômago se contraiu.
— Sobre o quê?
Ela deu de ombros.
— Coisas grandes.
Coisas grandes. Era uma boa definição para tudo o que rondava aquele lu