Capítulo 50 — O Sangue Fala

POV Isadora Ferraz

Acordei antes do sol. O silêncio do apartamento de Olívia era tão pesado que chegava a doer nos ossos. Me sentei na beira da cama, os pés gelados no chão, a cabeça girando como um carrossel quebrado. Tomei um banho rápido. A água escorria e levava embora um pouco do medo, mas não o suficiente. Olhei meu reflexo no espelho. Olheiras profundas, lábios pálidos. Uma mulher que já enterrou tantas versões de si que já nem sabe quantas ainda restam.

Vesti uma calça jeans surrada, uma camiseta larga. Nada de batom, nada de escudo. Hoje eu ia nua. Não o corpo, mas a alma. Quando saí do quarto, Olívia já me esperava na cozinha. Dois cafés na mesa, ela segurava um copo d’água com as duas mãos, os dedos inquietos.

— Dormiu? — perguntou, mas o olhar dizia que ela já sabia a resposta.

Neguei. Ela empurrou o café pra mim. Segurei, mas não consegui beber.

— Vamos? — falei, num sopro.

Ela levantou, pegou as chaves. Saímos. O elevador parecia uma cápsula sufocante, a respiração dela
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