POV Isadora Ferraz
Tirei o batom com raiva. Aquela cor vinho parecia sangue coagulado na minha boca. Sangue dos discursos falsos. Sangue do sorriso forçado. Sangue do nojo que sentia de mim mesma por não ter reagido naquela mesa de jantar.
Abri o armário. Vesti uma calça jeans escura, regata preta. Jaqueta de couro. Rímel borrado, mas o olhar afiado. Eu precisava sair. Respirar. Lembrar quem eu era antes de virar a boneca de porcelana dos Montenegro.
Desci as escadas em silêncio. Elena falava com Heitor na sala, rindo como se o mundo fosse feito só de bebês e promessas. Célia estava no telefone, provavelmente tentando abafar o novo escândalo com a classe de uma vilã da década de 80.
Rafael… Rafael não estava à vista. Mas eu sentia o cheiro dele no ar. Aquele perfume amadeirado barato que me dava enjoo.
Peguei a chave do carro.
— Vai sair? — perguntou Célia, sem nem me olhar.
— Preciso tomar ar.
— Sozinha?
— Se eu quisesse companhia, teria convidado um demônio mais interessante.
Ela so