LorenaO reflexo no espelho me encarava com uma frieza que me dava arrepios.Ali estava eu, prestes a subir ao palco para mais uma apresentação. Os cabelos perfeitamente alinhados, o batom vermelho desenhando um sorriso que não existia, o rímel disfarçando o cansaço nos olhos — e o vestido preto, longo, impecável, como uma armadura.Por fora, eu era a imagem da perfeição. Por dentro, só havia silêncio.Desde criança, fui moldada para isso — para ser a menina exemplar, a filha dócil, a pianista impecável.Meu pai dizia que perfeição era o mínimo aceitável. Um erro de nota, um passo em falso, e o castigo vinha. Dois dias de cama, o corpo latejando e a alma se escondendo onde a dor não alcançava. A música era o meu esconderijo. O som das teclas, o único lugar onde eu podia respirar sem medo.Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos.Não há quase nenhuma foto dela pela casa — como se nunca tivesse existido.Meu pai nunca fala sobre ela, e com o tempo, aprendi a não perguntar.Fui criada
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