Capítulo 03

Felipe 

Meu pai sempre dizia que, quando eu tivesse experiência suficiente, assumiria a empresa.

— E então, filho, eu e sua mãe vamos finalmente poder viajar pelo mundo. Já trabalhamos demais. — Ele repetia isso em quase todos os almoços de domingo.

Quando terminei a faculdade, comecei no setor financeiro da companhia, fazendo todos os papéis possíveis. Segundo ele, eu precisava aprender a fazer tudo — do básico ao estratégico. Foram três anos intensos, até que ele me chamou para trabalhar diretamente ao seu lado. Mais três anos depois, em uma reunião que eu jamais vou esquecer, me anunciou como novo responsável pela empresa.

Aquela empresa carregava um legado.

Meu avô a havia fundado praticamente com as próprias mãos, e meu pai, com visão e disciplina, fez dela a maior do setor de logística da América Latina. Agora era a minha vez. Minha missão: expandir os negócios pela Europa. Uma responsabilidade enorme, mas também o tipo de desafio que sempre me moveu.

Quando decidimos organizar o evento para anunciar nosso primeiro escritório na Espanha, eu não imaginava que seria um sucesso tão grande — principalmente por causa da música.

Lorena.

Eu já havia ouvido o nome dela antes — uma jovem pianista promissora, conhecida por se apresentar em eventos de gala. Mas nada, absolutamente nada, me preparou para vê-la ao vivo.

Aquela mulher tinha algo… diferente. Não era apenas o talento. Era a forma como ela se movia, como cada nota parecia vir de um lugar profundo. Ela tocava com alma — e, por alguns minutos, o salão inteiro desapareceu. Fiquei apenas observando.

Quando a apresentação terminou, me aproximei. Quis cumprimentá-la, agradecer por ter tornado aquele momento ainda mais grandioso.

A primeira impressão foi a melhor possível: educada, discreta, inteligente e muito mais bonita de perto do que nas fotos que já tinha visto em revistas.

Quando disse a ela que gostaria de ver outras apresentações, falei sério. E, curiosamente, o destino tratou de providenciar isso mais rápido do que eu esperava.

Dias depois, em outro evento corporativo, lá estava ela novamente — elegante, concentrada, com aquele olhar sereno e distante. Toque impecável. Presença marcante.

Foi nesse momento que uma ideia me ocorreu. Minha avó faria oitenta anos. Ela sempre amou música — especialmente piano. Contratar uma pianista talentosa para tocar na festa parecia o presente perfeito.

E por que não Lorena?

Decidi ali mesmo.

Me aproximei após a apresentação, elogiando o desempenho, e pedi o contato dela. Conversamos por um bom tempo, e a cada palavra trocada, minha impressão só melhorava. Havia algo nela que me despertava curiosidade, uma mistura de doçura e reserva, como se estivesse sempre tentando se proteger de algo.

Nos despedimos, e, logo em seguida, encontrei Marina — uma velha amiga da época da faculdade.

Nos conhecemos quando ela cursava administração e eu economia. Saímos algumas vezes e nossos caminhos se cruzavam com frequência em eventos do setor, e era sempre bom revê-la.

— Felipe Andrade! — disse ela, sorrindo ao me ver. — Então é você que anda expandindo impérios agora?

— Só tentando manter o legado de família — respondi, rindo. — E você, continua dominando o mercado financeiro?

— Tentando. — Ela sorriu. — Senti falta de te ver nas últimas conferências.

Conversamos por alguns minutos, mas, mesmo enquanto falávamos, minha mente insistia em voltar para outro lugar. Para o som do piano. Para o olhar tímido de Lorena.

Era estranho… eu mal a conhecia, mas algo nela me intrigava.

E, de algum modo, eu sabia que ainda a veria novamente.

— Sabe que adoro te encontrar nesses eventos, né? Eles ficam bem menos chatos com a sua presença — disse ela, com um sorriso largo.

— Também é sempre um prazer te encontrar — respondi.

Eu e Marina nos dávamos muito bem. Já tentamos namorar, tentamos sexo casual — que, por sinal, era muito bom —, mas funcionávamos melhor como amigos. E já tínhamos entendido isso.

— E a pianista? Ela é muito bonita — disse ela, me provocando.

— Não é o que está pensando. Vou contratá-la para o aniversário da minha avó — respondi.

— Sei… se eu fosse você, aproveitava. Já tem um monte de cara em cima dela — disse ela, sorrindo.

— Não seja intrometida. Não tenho segundas intenções com ninguém… só com você — retruquei, provocando.

— Aham, acredito — respondeu Marina, arqueando a sobrancelha. — Você está precisando de uma namorada pra parar de correr atrás de mim.

— Eu nunca vou parar de correr atrás de você — disse, rindo.

— Se a gente tivesse dado certo, né? Mas eu sou demais pra você — provocou ela.

— Com certeza você é — respondi, divertido.

Olhei para onde Lorena estava. Marina tinha razão — ela estava rodeada de caras, todos sorrindo a cada palavra que ela dizia. Mas não me interessava. Ela parecia muito jovem, e meu interesse era completamente profissional.

[...]

— Mãe, achei o presente perfeito para o aniversário da vovó — disse, empolgado.

— O quê? — perguntou ela, curiosa.

— Uma apresentação de piano — respondi.

— Felipe, você sabe que ela não está saindo de casa e se cansa rápido. Além disso, a quantidade de pessoas pode deixá-la nervosa — disse minha mãe, preocupada.

— Não, mãe. Eu vou trazer ela. Vai ser uma apresentação exclusiva, só para a vovó.

— Então ela vai adorar — respondeu minha mãe, com um sorriso.

O aniversário seria dali a duas semanas. Eu sabia que estava em cima da hora, mas torcia para que Lorena aceitasse.

Peguei o celular e escrevi:

Oi, bom dia. Aqui é o Felipe Andrade, lembra de mim?

Comentei com você sobre uma apresentação particular e gostaria de saber se está livre no próximo sábado.

É aniversário da minha avó e eu adoraria presenteá-la com sua apresentação.

Enviei a mensagem e torci para que desse certo.

Estava mais ansioso do que imaginei. Toda hora pegava o celular para ver se ela tinha respondido — nada. Até que, duas horas depois, chegou a notificação. Era dela.

Bom dia, Felipe. Será um prazer tocar no aniversário da sua avó.

Sem perceber, me peguei sorrindo para o celular.

Obrigado! E, por favor, me envie os dados para que eu possa realizar o pagamento.

Guardei o telefone e tentei ocupar a mente com outras coisas. Em casa, havia um piano simples — daqueles que minha mãe usava quando fazia aula —, e eu achei que serviria. Seria algo em família, nada grandioso. Eu só esperava que minha avó gostasse.

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