Naquela noite, Bianca demorou a adormecer. O som do relógio do corredor parecia mais nítido do que nunca, cada badalada marcava não apenas o tempo, mas uma espécie de lembrança recente, impossível de dissolver.As palavras de Helena sobre a herança ecoavam como um ruído que ela não sabia onde guardar. O que significava, afinal, que tudo aquilo pertencia ao pai, e não à família?A mansão nunca fora sua — disso Bianca sempre soubera. Desde o primeiro dia, carregava a sensação de estar ali por gentileza, por ser filha da irmã dela. Mas, até então, acreditava que a casa pertencia ao mundo da tia, e que seu pai era apenas alguém que trabalhava duro para manter o pouco que tinham. Era mais fácil assim, aceitar como vivia antes de chegar a Toronto.Agora, tudo se embaralhava.Descobrir que o pai não servia a ninguém, mas que era ele quem sustentava aquele teto, não lhe trouxe orgulho — trouxe um medo silencioso, quase infantil, como se o mundo pudesse desabar de repente. Não era o medo de pe
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