As janelas da mansão ainda guardavam o frio da madrugada quando Bianca desceu para a copa. O relógio do corredor, sem pressa, riscava a hora como uma lâmina sobre vidro. Ela puxou a cadeira, acomodou o guardanapo no colo e sorveu o primeiro gole de café, deixando que o amargo assentasse sobre a língua antes de respirar fundo.
Tinha o hábito de respirar como quem se recorda de alguma coisa — e, às vezes, lembrava-se de nada.
O mordomo trouxe frutas em uma travessa que brilhava com zelo. A cada movimento, o lustre da copa derramava pequenos clarões nas bordas prateadas. Bianca não se importava com a grandiloquência dos objetos; era a disciplina das coisas que a pacificava. Tudo ali, inclusive ela, tinha um lugar e um gesto para cumprir.
— Bom dia, Bianca.
A voz de Lincoln surgiu antes do corpo, leve e clara no batente. Ele entrou, penteado, mangas dobradas até os pulsos, um caderno pequeno de capa preta preso por um elástico.
— Dormiu bem?
— O suficiente. — Bianca ergueu ligeiramente o