O carro cruzou os portões da mansão com a mesma lentidão calculada de sempre. A manhã ainda carregava um frio suspenso, como se o dia hesitasse em começar.
Bianca sentou-se ereta no banco de trás, as mãos entrelaçadas, o casaco bem fechado até o pescoço. Helena estava sentada ao lado, imóvel, a postura impecável que parecia sustentar o próprio ar ao redor. Não falava. Apenas observava a cidade despertar pela janela, como se cada edifício fosse parte de um inventário silencioso.
Ela faria uma parada depois de deixar Bianca — uma consulta rápida e, em seguida, algumas compras em duas lojas de roupas que sempre visitava naquele bairro, quase como um ritual.
Bianca acompanhava o vidro embaçar com sua respiração. Não desenhou nada dessa vez. Sentia que aquele momento exigia contenção — e ela aprendia depressa.
— O silêncio, às vezes, é mais elegante do que qualquer frase — disse Helena, sem virar o rosto, como se respondesse a um pensamento que Bianca não expressara.
Bianca assentiu. Estav