A cidade parecia a mesma de sempre: fria, apressada, indiferente. Mas Helena sentia que algo dentro dela tinha mudado. Carregava no peito uma determinação silenciosa, como se as conversas com Marta, o cheiro da terra molhada e o silêncio do campo tivessem acendido uma chama que não se apagaria facilmente. Na segunda-feira, voltou ao trabalho. Caminhou pelos corredores com passos firmes, ignorando os olhares curiosos. Já sabiam de seu retorno e, certamente, já sabiam também dos boatos sobre Adriano e a ex-esposa. Helena não queria explicações públicas, mas dentro de si ardia a necessidade de não mais se esconder. O primeiro olhar Adriano estava de costas, revisando gráficos na tela, quando ela entrou na sala. Lígia, como sempre, sentada ao lado, com papéis espalhados e anotações rápidas. — Bom dia — Helena disse, a voz firme. Adriano virou-se. O brilho nos olhos claros vacilou por um instante. — Helena… — murmurou, num tom quase íntimo, como se esquecesse da presença de Lígia. —
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