AmaraA cidade rugia ao longe como uma fera cansada. Do alto da cobertura, as sirenes pareciam gritos presos em vidro. Eu fechei a varanda, baixei as luzes e transformei a sala em um lugar de cura, mesa baixa, toalha branca, sal, água, o cristal que guardo desde a adolescência, e uma gota do meu sangue para selar. Damian respirava pesado no sofá, febre morna na pele, o curativo do flanco esquerdo puxando a cada suspiro.— Fica comigo, amor — pedi, encostando a testa na dele. — Só mais um pouco.O telefone vibrou. Mirella em chamada de vídeo, rosto calmo, voz firme.— “Você já sabe o básico. Hoje, lembra de uma coisa, você não cura o lobo. Você sinaliza ao corpo dele o caminho de volta.”— Sinal. Não força. — Repeti, para não esquecer.— “Isso. Abre a tigela, água primeiro, sal por cima. Deixa a lua cair no cristal e refletir. A gota de sangue é para dizer: “eu estou aqui”.”Fiz tudo como ela disse. A água fez um círculo perfeito, o sal estalou no fundo, o cristal, na beira, pescou um
Leer más