Amara
A sala de eventos tinha cheiro de flor fresca e doação nova. Mesas com arranjos simples, um painel com fotos de abrigos e sorrisos reconstruídos, e um palco baixo, sem pompa.
Eu quis tudo assim, próximo. Humano. O letreiro atrás dizia “Rede de Abrigo & Recomeço”, e, por um momento, o coração ficou leve. Era meu projeto, meu jeito de dizer que eu era mais do que “Sra. Blackwell” nos jornais.
— Tem certeza do texto? — Mirella perguntou, ajeitando minha pulseira. O brilho prateado apareceu um segundo e se escondeu sob a pele.
— Tenho — respondi. — É a minha voz. E a das mulheres que a gente conheceu.
Ronan conferiu o ponto no ouvido, tenso como sempre.
— Segurança reforçada. Equipe reduzida, mas atenta. Sinais limpos, sem micro apagões. Qualquer coisa, eu tiro você em dois segundos.
Sorri.
— Só me deixa falar, Ronan.
Minha mãe estava na terceira fila, mãos unidas, orgulho manso no olhar. Meu pai ao lado, mexendo nos óculos, tentando conter a emoção. Quando as luzes diminuíram e a